31 de julho de 2011 | 00h00
A direção da CUT queixa-se de não ser ouvida pelo governo, mas, quando tem oportunidade de se manifestar, dá sinais de não entender patavina dos problemas de cuja solução pretende participar, nem o impacto que a demora dessa solução tem sobre a vida das pessoas afetadas por eles, o que inclui os filiados às entidades sindicais que diz representar.
Em entrevista ao jornal Valor, o presidente da CUT disse que, enquanto discute determinados temas com o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho - designado pela presidente para os contatos com os movimentos sociais -, decisões são tomadas sem que ele seja ouvido. "Se for esperar acabar aquele tema em discussão na Secretaria-Geral para entrar no outro tema, o assunto já foi resolvido dentro do governo", disse. "Um exemplo: aeroporto."
Trata-se, de fato, de um ótimo exemplo do papel desempenhado até há pouco pelo governo e ainda agora pela CUT. A incapacidade do governo de enfrentar o problema da precariedade do sistema aeroportuário e da necessidade de sua modernização e expansão para atender a uma demanda que cresce exponencialmente já provocou situações dramáticas. O caos nos aeroportos observado nos últimos anos foi a demonstração mais nítida da incompetência do governo para prover um serviço adequado.
A rapidez do crescimento do movimento nos aeroportos não diminuiu. "O mercado doméstico brasileiro é o que mais cresce no mundo", apontou o relatório mensal da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) divulgado há pouco em Genebra. Entre janeiro e junho, o número de passageiros transportados no mercado doméstico cresceu 19% em relação ao primeiro semestre de 2010, índice quase cinco vezes maior do que o crescimento do mercado mundial, de 4%.
Sem reformas profundas na gestão dos aeroportos, seriam cada vez maiores os riscos de repetição, e com frequência cada vez maior, do caos aéreo, comprometendo totalmente a credibilidade das autoridades responsáveis pelo sistema antes mesmo da realização dos grandes eventos internacionais previstos para os próximos anos.
Em maio, finalmente, o governo Dilma tomou a decisão correta de transferir para o empreendedor privado a tarefa de fazer aquilo que o setor público, sobretudo a Infraero, não conseguiu fazer nos últimos anos, isto é, ampliar e tornar mais eficiente o sistema. O modelo para a concessão da expansão e da operação dos principais aeroportos do País - inicialmente, serão privatizados os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília - ainda não foi concluído e, para concluí-lo, o governo tem ouvido as partes interessadas.
Uma dessas partes, pois a concessão envolve questões trabalhistas, é o movimento sindical. Da reunião promovida pela Secretaria-Geral e pela Secretaria da Aviação Civil com sindicalistas, para discutir a questão trabalhista, Artur Henrique saiu ameaçando recorrer à Justiça caso o governo insista em transferir para o setor privado o controle da empresa que ampliará e operará esses aeroportos - questão sobre a qual não tem credenciais para opinar. Pretendendo meter o bedelho nas grandes questões nacionais - deixando de lado as principais questões trabalhistas para outras centrais sindicais, que se mobilizam para realizar um ato conjunto em agosto -, a CUT ignora os interesses dos brasileiros, que precisam de aeroportos eficientes, os quais o sistema atual não conseguiu oferecer.
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