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A devastação da indústria

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Por Redação
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A indústria continua em mau estado, investindo pouco e muito longe da recuperação, apesar de alguns sinais positivos identificados em setembro. Se depender do setor industrial, dificilmente o crescimento econômico em 2014 será muito melhor do que têm previsto economistas do mercado financeiro e de instituições internacionais - algo na vizinhança de 0,3%. Depois da recessão no primeiro semestre, só um grande impulso tiraria o Brasil do atoleiro da estagnação. Os mais otimistas ainda continuam, no entanto, esperando esse tranco salvador. A produção geral da indústria diminuiu 0,2% de agosto para setembro, segundo o IBGE, mas houve resultados positivos em dois dos três grandes segmentos: avanço de 1,9% em bens de capital e de 1% em bens de consumo, em contraste com a diminuição de 1,6% na fabricação de bens intermediários.Alguns sinais animadores à primeira vista foram também apontados em relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em setembro, o faturamento cresceu 0,8%, descontada a inflação, as horas de trabalho na produção aumentaram 1% e o uso da capacidade instalada, de 81,3%, foi 0,8 ponto porcentual maior que no mês anterior. Mas o lado positivo da história praticamente se resume nesses dados gerais da CNI e do IBGE e com alguns detalhes do desempenho setorial, como, por exemplo, o aumento mensal de produção em 15 de 24 classes de indústrias cobertas pela pesquisa oficial.A maior parte do quadro continua muito feia. Em condições normais, com as festas de fim de ano a maior parte dos setores cresceria na segunda metade do ano. Mas, no terceiro trimestre, a indústria geral produziu 3,7% menos que entre julho e setembro de 2013. A fabricação de bens de consumo duráveis foi 12,6% menor que a de um ano antes. A de bens de capital, 9,9% inferior à de igual trimestre do ano anterior.Os números acumulados em nove meses são igualmente desastrosos. A indústria geral produziu 2,9% menos que um ano antes. A fabricação de bens de consumo encolheu 2,2% em relação à mesma base. A de bens de capital diminuiu 8,2%.O desempenho foi ruim em todos os grandes segmentos e na maior parte das categorias de indústrias. O encolhimento da produção de bens de consumo, principalmente dos duráveis (redução de 9,6%) é explicável basicamente por três fatores - a oferta mais moderada e mais seletiva de crédito, a piora das expectativas dos consumidores e o continuado avanço dos produtos estrangeiros no mercado nacional. O consumo, apesar de tudo, ainda cresceu, mas a indústria brasileira continuou incapaz de atender plenamente à maior demanda.Os números da indústria têm mostrado há muito tempo o fracasso de uma estratégia de crescimento baseada principalmente na expansão do consumo. Mas o governo insistiu nesse jogo, como se esperasse, contra toda evidência e contra o mais chapado bom senso, resultados melhores em algum momento.Sem investimentos, sem aumento de capacidade e sem ganho de eficiência, a indústria brasileira empacou e continua empacada. Alguns setores, como o automobilístico, têm vivido de estímulos fiscais, sempre renovados.O governo continua investindo muito menos que o necessário para remover os entraves da infraestrutura. As empresas privadas pouco aplicam na ampliação e na modernização de sua capacidade produtiva. Os dados do IBGE são muito claros. A produção de máquinas e equipamentos, já empacada nos anos anteriores, diminuiu mais 4,3% nos 12 meses até setembro (e 8,2% na comparação dos primeiros nove meses de 2014 e 2013). A importação de bens de capital também diminuiu. O valor importado até outubro, de US$ 40,21 bilhões, foi 6,4% menor que o de um ano antes, pela média diária.Parece muito natural, nesse quadro, a redução do emprego, embora as empresas tentem preservar a mão de obra treinada. De agosto para setembro, o emprego diminuiu 0,6%, segundo a CNI. Em nove meses, o pessoal empregado ficou 0,1% menor que um ano antes. Com isso, continua diminuindo o emprego de qualidade mais alta.