
30 de abril de 2010 | 00h00
Os últimos dados nacionais de consumo são de fevereiro e mostram intenso movimento no comércio varejista. Naquele mês, o volume de vendas foi 1,6% maior que o do mês anterior e 12,3% maior que o de um ano antes. No primeiro bimestre, as vendas ficaram 11,3% acima do volume registrado em janeiro e fevereiro de 2009. Como este foi o pior momento da crise, a recuperação pode parecer apenas normal. Mas o quadro fica mais claro quando se verifica um aumento de 6,9% em 12 meses. Além disso, o consumo das famílias não deixou de crescer em 2009, apesar da retração da maior parte dos indicadores da economia. Também nesse aspecto, a recessão foi muito menos severa no Brasil do que na maior parte dos países desenvolvidos.
Os números da produção indicam também a firme expansão do mercado consumidor. Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou, com base na avaliação de executivos de 1.227 empresas de todo o País, um firme crescimento da produção, do emprego, das vendas e do uso da capacidade instalada. Além disso, foi registrada expansão em 26 de 28 setores cobertos pela pesquisa. Dos outros dois, um recuou e o outro permaneceu sem variação.
A Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo divulgou terça-feira o Índice do Nível de Atividade. O aumento de 2,8% de fevereiro para março, descontado o efeito sazonal, foi o maior para o período desde 2004. Comparando-se o primeiro trimestre deste ano com o primeiro de 2009, o resultado obtido ? uma diferença de 18,2% ? é o melhor da série iniciada em 2001. No acumulado de 12 meses, a variação ainda é negativa (-1,15), mas um nível igual ao anterior à crise já deve ter sido alcançado em abril, segundo o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini. Além disso, a indústria usou 81,6% de seu potencial produtivo, pouco mais que no mês anterior.
Um dos melhores indicadores do aquecimento econômico é a redução do superávit comercial. A importação voltou a crescer bem mais rapidamente que a exportação, por causa da expansão da demanda interna. Sem a entrada de produtos estrangeiros, a inflação seria certamente mais alta. Apesar disso, os preços continuam crescendo aceleradamente, embora tenham perdido algum impulso nos últimos dois meses.
Em março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política oficial, subiu 0,52%. Subiu menos do que em fevereiro (0,78%), mas ainda acima do ritmo compatível com a meta central fixada para este ano, de 4,5%. Apesar da redução do IPCA, o grau de difusão cresceu de 61,7% para 66,4%: elevou-se, portanto, o número de itens com aumento de preço. As pressões se espalharam, portanto, e esse é um forte sinal de excesso de demanda.
Boa parte dessa tendência é explicável pela rápida expansão do crédito ao consumidor. Em março, o saldo dos empréstimos a pessoas físicas foi 2% maior que em fevereiro. Em 12 meses, o crescimento foi de 18,6%, segundo relatório divulgado nessa quinta-feira pelo BC. Esse quadro mostra que o aumento da Selic pode não bastar.
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