23 de setembro de 2010 | 00h00
Um dia antes da reunião do comitê, o mau estado da economia havia sido ressaltado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, responsável pela datação dos ciclos. A recessão iniciada em 2007 acabou em junho do ano passado, segundo o escritório, mas o emprego dificilmente voltará ao nível pré-crise antes de 2013. A persistência de um enorme número de trabalhadores desocupados - atualmente mais de 9% da população ativa - retardará a expansão do consumo e a recuperação econômica.
A recuperação perdeu impulso na maior parte do mundo rico, embora o desempenho dos países tenha sido muito desigual. Em conjunto, as sete maiores economias capitalistas cresceram no segundo trimestre em ritmo equivalente a 2,5% ao ano, depois de uma expansão de 3,2% no trimestre anterior, segundo a OCDE, formada na maior parte por países desenvolvidos. No segundo semestre, segundo as novas projeções, aqueles sete países devem crescer à taxa anualizada de 1,5%. "Não está claro", segundo o documento da organização divulgado neste mês, se a perda de impulso é temporária ou se é sinal de um enfraquecimento dos gastos privados como consequência da retirada de estímulos. Se este for o caso, será necessário, segundo os economistas da OCDE, aumentar os estímulos monetários. Coincidentemente, esta é a linha de ação indicada como provável pelo Fed.
Nos últimos dias, o documento de tom mais otimista foi divulgado pela OMC. Segundo a nova projeção, o volume do comércio global de bens deve crescer 13,5% neste ano. O número projetado em março era 10%. Se a atual estimativa for confirmada, a expansão do intercâmbio em base anual será a maior desde 1950. O desempenho mais notável será o das economias em desenvolvimento e da Comunidade de Estados Independentes (ex-União Soviética): 16,5% de aumento das exportações. As economias desenvolvidas exportarão 11,5% mais que em 2009.
Mas o cenário fica bem menos luminoso quando se leva em conta a contração do comércio no ano passado: 12,2% em todo o mundo. Quando se considera essa base, o volume do comércio ainda será 0,3% inferior ao de 2008, se o crescimento de 13,5% em 2010 for confirmado.
Esse aumento do comércio, segundo o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, poderá proporcionar os meios para os países saírem da recessão e voltarem a criar empregos. Os governos, acrescentou Lamy, "tiveram a sabedoria" de resistir às pressões protecionistas. Há um certo exagero nessa afirmação, embora as barreiras ao comércio tenham sido, de fato, limitadas. Mas o assunto não está encerrado. Há uma guerra cambial, e não só por causa da moeda chinesa subvalorizada. Os governos da Europa e do Japão tentam reagir não só à política chinesa, mas também à desvalorização do dólar. No meio do fogo cruzado, as autoridades brasileiras tentam limitar a valorização do real e a perda de competitividade dos produtores nacionais.
Encontrou algum erro? Entre em contato