
13 de setembro de 2014 | 02h03
Essa queda foi, em grande parte, atribuída à redução da atividade no início da Copa, mas seria um erro esquecer outros fatores negativos, de efeito mais duradouro, observados em outros meses, como o baixo investimento produtivo, o enfraquecimento da indústria e a redução do emprego nas fábricas. A inflação, o endividamento das famílias e o crédito mais difícil também têm afetado os negócios, prejudicando o consumo e alimentando o pessimismo dos empresários.
Na quinta-feira, um dia antes da divulgação do Índice de Atividade do BC, o IBGE publicou os últimos números do comércio varejista. As vendas do varejo restrito foram 1,1% menores que as de junho. Foi a maior queda em um mês de julho desde o ano 2000. As do varejo ampliado - com inclusão de veículos, autopeças e material de construção - cresceram 0,8%, mas ainda foram 4,9% menores que as de um ano antes.
Os dados do IBC-Br foram precedidos, portanto, de informações pouco entusiasmantes sobre a produção da indústria e sobre as vendas ao consumidor final. Examinados mais de perto, combinam com um quadro geral de baixo dinamismo fora do agronegócio. O nível de atividade representado pelo índice de julho praticamente coincide com o de maio, mas é inferior aos de todos os meses de janeiro a abril. Além disso, a média dos meses de maio a julho é 0,95% inferior à do trimestre de fevereiro a abril.
Também o crescimento de janeiro a julho e o acumulado em 12 meses são muito baixos. No ano, o indicador de atividade avançou apenas 0,07%. Nos 12 meses terminados em julho, o avanço chegou a 1,14%, na série livre de fatores sazonais. Diferenças entre os números do BC e os do PIB calculado pelo IBGE são normais, mas os cenários desenhados tendem a ser parecidos.
Isso ocorre também neste caso. Pelas contas do IBGE, o PIB cresceu 1,4% nos quatro trimestres até junho deste ano. Na primeira metade de 2014 as estimativas indicam uma recessão, com duas quedas do PIB - 0,2% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo. O valor produzido entre janeiro e junho foi 0,5% inferior ao dos primeiros seis meses de 2013.
Ao rever os valores do período de abril a junho, o IBGE poderá, talvez, descobrir um desempenho econômico pouco melhor que o apurado na primeira estimativa. Mas essa descoberta, se ocorrer, terá efeito meramente estatístico. Nem para o discurso político terá muita utilidade. Além do mais, o cenário geral mostrado pelos principais indicadores é muito ruim. Isso vale tanto para os primeiros seis meses do ano quanto para os meses de julho e agosto. O ano será provavelmente encerrado com algum número positivo. Mesmo com resultados muito fracos, este semestre poderá ser melhor que o anterior. Mas nem isso tornará 2014 um ano bom para a economia brasileira.
Durante 15 semanas consecutivas, até 5 de setembro, os economistas do mercado financeiro reduziram suas estimativas de crescimento neste ano, segundo a pesquisa semanal Focus, do BC. Na mais recente, a mediana das projeções caiu para 0,48%. Papai Noel poderia, talvez, proporcionar um número pouco melhor, mas, por enquanto, as contratações do comércio para o fim do ano estão em marcha muito lenta.
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