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A educação brasileira

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Por Redação
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O Brasil está avançando na educação, mas os países desenvolvidos e muitos países em desenvolvimento estão avançando ainda mais. Esta é uma das conclusões do relatório de 2012 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), mantido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Realizado a cada três anos, o estudo foi elaborado com base nos rankings de três provas - matemática, ciência e leitura - aplicadas a estudantes de 15 anos de 65 países ou regiões econômicas delimitadas (como é o caso da província chinesa de Xangai). Ao todo, submeteram-se às provas do Pisa de 2012 510 mil estudantes, dos quais 19.877 eram alunos brasileiros de 837 escolas. A amostra representa os aproximadamente 28 milhões de alunos dessa faixa etária nos países avaliados. O objetivo da avaliação é aferir o quanto os alunos aprenderam em sala de aula e se conseguem aplicar o conhecimento adquirido na solução de problemas reais em seu dia a dia. Com 391 pontos, os estudantes brasileiros ficaram em 58.º lugar na prova de matemática, numa posição próxima à dos estudantes da Albânia, Jordânia e Tunísia. Em 2003, a média foi de 356 pontos. O ranking dessa disciplina em 2012 foi liderado pelos estudantes de Xangai e Cingapura, que obtiveram 613 e 573 pontos, respectivamente. A média dos estudantes dos países da OCDE foi de 494 pontos. Entre os países da América Latina, o Brasil ficou abaixo do Chile, México, Uruguai e Costa Rica e acima do Peru e da Colômbia. Na prova de leitura, os estudantes brasileiros obtiveram 410 pontos - menos do que na edição anterior do Pisa. E, na prova de ciências, permaneceram estagnados, com 405 pontos. Essas pontuações são consideradas baixas pelos pedagogos. Os estudantes na faixa dos 400 pontos têm graves problemas de proficiência. Não dominam a leitura e a escrita. Não aprenderam o mínimo previsto de matemática, tendo dificuldade de fazer cálculos. E têm conhecimentos rudimentares em ciência. Já as notas entre 550 e 600 pontos sinalizam que os estudantes têm formação refinada, dominando habilidades fundamentais para lidar com as tarefas da vida cotidiana.Os números do Pisa de 2012 mostram que, apesar de o acesso à escola ter melhorado em todos os níveis, nas últimas décadas, a qualidade do ensino evoluiu pouco. Professores do ensino fundamental, por exemplo, não conseguem transmitir informações mínimas para justificar a diplomação de seus alunos. O tempo das aulas também é insuficiente, apesar de a Lei de Diretrizes e Bases da Educação recomendar jornada de tempo integral. Desestimulados, desvalorizados e com salários aviltados, muitos docentes da rede pública acomodaram-se no corporativismo sindical. Incapazes de suprir a escassez de professores de matemática, física, química e biologia e de valorizar o magistério público, na última década as autoridades educacionais agitaram bandeiras mais vistosas do que eficazes. De modo contraditório, deixaram o ensino médio à própria sorte e alargaram as portas de acesso ao ensino superior. Em vez de cuidar da formação básica, perderam tempo com políticas de cotas raciais e desperdiçaram recursos escassos instalando universidades onde não havia demanda. Criaram um ambicioso programa de bolsas de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior sem, antes, oferecer cursos eficientes de língua estrangeira. E, em nome de uma fantasiosa "democracia escolar", acenaram com a obrigatoriedade de eleições diretas e gestões colegiadas, inclusive na rede privada.O Pisa também avalia aspectos como a satisfação dos alunos com a escola e como eles se sentem no ambiente escolar. Um dos indicadores é o que analisa o quanto o aluno se sente incluído na escola. No Pisa de 2003, 8% dos estudantes brasileiros disseram que se sentiam sozinhos. No Pisa de 2012, o índice chegou a 19%. Isso mostra, além de uma sensação de abandono, a consciência que parte significativa de nossos adolescentes tem da inépcia dos responsáveis pela política educacional do País.