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A eficiência entra na pauta

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Por Redação
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O desafio central é promover a competitividade, e para isso será preciso cortar custos e elevar a eficiência produtiva, disse o senador Armando Monteiro Neto, escolhido para chefiar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No mesmo dia, o Ministério divulgou o resultado comercial de novembro, um déficit de US$ 2,35 bilhões, e o acumulado de 11 meses, um buraco de US$ 4,22 bilhões, com exportações e importações menores que as do ano anterior. Um dia depois, novos dados sobre a indústria apontaram estagnação entre setembro e outubro e queda de produção durante o ano. As novas informações formaram um contraponto perfeito ao discurso do futuro ministro, voltado muito mais para os problemas internos do que para as dificuldades impostas pela crise internacional. Se as ações corresponderem ao discurso, o País terá, pela primeira vez em muitos anos, uma efetiva política de desenvolvimento, voltada para a modernização e para o aumento da capacidade produtiva - da indústria e do seu entorno. Será uma virada tão importante quanto a anunciada na semana anterior pelos futuros ministros da Fazenda e do Planejamento, Joaquim Levy e Nelson Barbosa, e pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, escalado para permanecer no posto. As fraquezas do sistema produtivo e o fracasso do protecionismo e dos estímulos seletivos dos últimos anos são evidentes nos dados da indústria e do comércio exterior. De janeiro a outubro, a produção da indústria geral foi 3% menor que a de igual período de 2013. Entre 2011 e 2013, a variação acumulada havia sido ligeiramente negativa. Pior tem sido o desempenho do setor de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Neste ano, até outubro, ficou 8,8% abaixo do nível de um ano antes, prolongando uma série de resultados pífios. Como a importação de bens de capital, entre janeiro e novembro, foi 6,6% menor que a dos meses correspondentes do ano anterior, é evidente a redução do investimento produtivo, isto é, do potencial de crescimento. A anemia da maior parte da indústria - uns poucos setores ainda são competitivos - aparece com clareza nas trocas internacionais. Neste ano, até novembro, a exportação de manufaturados, US$ 73,32 bilhões, foi 12,4% menor que a de igual período de 2013, pela média dos dias úteis. Os embarques de semimanufaturados encolheram 4% entre os dois períodos e ficaram neste ano em US$ 26,55 bilhões. Isso se explica, em boa parte, pela crise na Argentina, um dos principais destinos das exportações brasileiras de bens industriais. As vendas para o mercado argentino, US$ 13,28 bilhões, foram 26,9% menores que as de um ano antes. No entanto, as exportações para os Estados Unidos aumentaram 9,6% e chegaram a US$ 24,7 bilhões. Cerca de metade desse valor vem dos manufaturados.Os números do comércio exterior ressaltam outro problema indicado pelo futuro ministro do Desenvolvimento e por estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), por ele presidida entre 2002 e 2010. O País precisa de mais acordos comerciais e de maior integração com os mercados maiores e mais dinâmicos - objetivo oposto ao da diplomacia econômica implantada pelo PT. O futuro ministro omitiu este detalhe, mas foi claro, como tem sido a CNI, na defesa de mais acordos. Uma das consequências dessa diplomacia é a dependência excessiva das vendas de commodities e da demanda chinesa. Se a estratégia fosse outra, o saldo geral teria sido menos afetado pela redução dos preços e pela queda de 1,8% na receita obtida com produtos básicos, US$ 101,92 bilhões até novembro.Será possível resolver a maior parte dos problemas com medidas microeconômicas, destinadas a aumentar a eficiência do sistema produtivo, sem prejudicar o esforço de correção das contas públicas, disse Monteiro Neto. Ele completou esse comentário defendendo um novo papel para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com maior atenção a empresas pequenas e médias. Se isso for cumprido, será o fim da política das campeãs nacionais - mais uma alteração saneadora.