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A falta de diálogo do governo

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Por Redação
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Após reunião de coordenação política com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Edinho Silva, afirmou que a intenção do governo é dialogar com a base e a oposição. “Queremos paz política, estabilidade política e vamos dialogar com todos os representantes dos Poderes. Vamos dialogar com todas as lideranças políticas desse país para que a gente possa ter divergências, sim, nós não precisamos pensar todos iguais, mas o mais importante é que as nossas divergências não paralisem o País, porque isso é contra os interesses do povo brasileiro”, afirmou Edinho. A disposição do governo ao diálogo é um tanto contraditória. Diz querer dialogar, mas não cumpre os requisitos básicos para qualquer tipo de diálogo. Diz querer dialogar para tirar o País da crise, mas deliberadamente não reconhece as reais causas da crise. O problema a ser resolvido – a grave crise política, econômica, social e moral que assola o País – não é uma decorrência de divergências políticas. É resultado de um assalto geral e sistemático à máquina pública, como meio de consolidar o PT no poder por prazo indeterminado. Sem admitir isso, não há possibilidade de diálogo. Não é difícil ver que as causas da crise estão em outra esfera. Basta não fechar os olhos à Operação Lava Jato e às inúmeras evidências de atos de corrupção e malfeitos de compadres e companheiros. Basta não fechar os olhos ao que foi vendido e prometido na campanha de reeleição da presidente Dilma em 2014. Basta não fechar os olhos ao que está dizendo o Tribunal de Contas da União – que as contas da presidente Dilma não estão de acordo com a lei. Basta não fechar os olhos à incompetência administrativa e política de um governo que consegue por seus próprios méritos agravar ainda mais a crise a cada dia, a cada semana. Basta não fechar os olhos à contradição de um governo que promete ajuste fiscal, mas cujo partido combate diariamente esse mesmo ajuste. A promessa de diálogo já vem de longe. Assim que foi anunciado o resultado do segundo turno das eleições de 2014, a presidente Dilma prometeu ao País uma nova Dilma. “Quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora. Quero ser uma pessoa muito melhor.” Afirmava que estaria mais aberta e mais disposta ao diálogo. “Essa presidenta está disposta ao diálogo, e esse é meu primeiro compromisso no segundo mandato: o diálogo. (...) Estou disposta a abrir grande espaço de diálogo com todos os setores da sociedade para encontrar as soluções mais rápidas para os nossos problemas.” E o que se viu desde então? A mesma incompetência política e administrativa. A mesma intransigência. O mesmo monólogo, que não trata dos problemas reais do País. A mesma “solução” para todos os problemas. A mesma resposta às críticas: é a oposição que simplesmente não reconhece o resultado das eleições. É como se tudo o que de ruim aconteceu e acontece fosse fruto de intrigas da oposição. A presidente quer diálogo? Comece por reconhecer que o seu partido governa o País há 13 anos e que, portanto, é responsável pela crise que aí está. Comece por reconhecer que fizeram o diabo em 2014 para vencer as eleições. Que tudo o que foi dito e prometido na campanha eleitoral de 2014 era mentira. Comece por reconhecer que as pedaladas fiscais não são uma questão política, e sim um crime. Comece por reconhecer que o mantra do golpe – de que todo e qualquer impeachment de um presidente petista seria golpe – não é verdadeiro. Que existe sim a possibilidade constitucional de retirar do poder um presidente que tenha cometido crime. Comece por reconhecer que a educação até agora não foi uma prioridade desse governo e que o “Brasil Pátria Educadora” foi a continuidade de um modo equivocado de fazer política, que substitui a realidade por slogans. Sempre é possível o diálogo, mas ele requer umas condições. Talvez a primeira delas seja reconhecer que o governo não está sofrendo um golpe nem está sendo injustiçado. É preciso dizer: a crise é nossa. O governo está disposto a aceitar o peso do sistema democrático, que responsabiliza cada um pelos seus atos?