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A festa da importação

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Por Redação
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O mercado brasileiro, fortalecido pela expansão do emprego e pelo aumento do salário real, oferece oportunidades para exportadores de todo o mundo. Neste ano o País importou, até a primeira semana de setembro, US$ 116,9 bilhões, 45,5% mais que no mesmo período de 2009. As exportações, US$ 128,7 bilhões, foram 27,9% maiores que as de um ano antes. Até agora, o dólar barato e as compras externas têm ajudado a conter a inflação, beneficiando as famílias e contribuindo para o aumento de seu bem-estar. Mas a tendência de aumento das importações pode tornar-se uma ameaça à produção nacional e à criação de empregos. Empresários têm pedido medidas protecionistas. Protecionismo, no entanto, não é uma solução, até porque, se adotado por muitos países, servirá somente para entravar o comércio. A expansão do consumo e a valorização do real têm estimulado a abertura de empresas importadoras. Neste ano, até julho, foram criadas 3.883. Pouco falta para se atingir o número das companhias de importação criadas nos 12 meses de 2008, 4.214. O País tinha em julho 31.852 importadoras. Segundo o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, no fim do ano poderá haver 40 mil empresas dedicadas à importação. Pela primeira vez serão mais que o dobro das exportadoras, 19.200 neste momento. O surto de compras externas ocorreu também em 2007 e na maior parte de 2008, durante a última fase de rápido crescimento econômico do Brasil. Durante cerca de um ano, até o começo da recessão, as importações aumentaram mais velozmente que as exportações. A tendência, interrompida durante a crise, ressurgiu quando a atividade voltou a crescer e a criação de empregos e a renda familiar se elevaram. Ministros e outros funcionários do governo têm atribuído o crescimento das importações principalmente à expansão do investimento produtivo. Companhias empenhadas em ampliar a produção e ganhar eficiência têm aumentado a compra de máquinas e equipamentos estrangeiros. Mas essa explicação mostra apenas um dos aspectos do quadro. De janeiro a agosto as compras de bens de capital fabricados no exterior foram 79,7% maiores que as dos oito meses correspondentes de 2009. Mas as compras de bens de consumo duráveis, como automóveis e equipamentos domésticos, foram 77,2% superiores às de um ano antes. Os porcentuais de aumento foram muito parecidos, portanto. Além disso, as compras de bens de consumo não duráveis (44,6%) e de matérias-primas e bens intermediários (39,6%) também superaram as de janeiro a agosto de 2009. Boa parte desses insumos é destinada à produção de bens para o consumidor final. Não há nada errado, em princípio, em comprar bens estrangeiros para consumir. Isso ocorre em todos os países com um grau razoável de abertura comercial. Mas há algo errado quando o poder de competição dos produtores de um país é minado por fatores estranhos à fábrica ou à propriedade rural. No Brasil há pelo menos dois desses fatores. Um deles é o câmbio, valorizado pelo ingresso de capitais destinados tanto à produção quanto à especulação. Juros altos são um dos fatores de atração - mas os juros são dependentes, em boa parte, de variáveis como o gasto público e o desequilíbrio das contas públicas. Outros elementos prejudiciais à competitividade são componentes de custos, como impostos, transportes, crédito de curto e de longo prazo, etc. Protecionismo não resolve nenhum desses problemas estruturais. Pode tornar a vida mais confortável para os empresários, mas prejudica os consumidores sem fortalecer de fato a economia. Barreiras podem ter uma função positiva - e sempre por um prazo limitado - quando servem para neutralizar práticas desleais de concorrência ou para conter um aumento repentino e perigoso de importações. A longo prazo, no entanto, só a combinação de produtividade e qualidade pode garantir o sucesso comercial de um país e a contínua criação de empregos. O resto é engano - na maior parte dos casos, autoengano.