
07 de janeiro de 2012 | 03h04
A economia brasileira cresceu 7,5% em 2010 e os preços ao consumidor subiram 5,9%. Em 2011 a situação se inverteu. O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou muito menos - algo em torno de 3%, segundo estimativas correntes - e os preços ao consumidor subiram muito mais. Foi uma combinação sem dúvida perversa. Mas a demanda interna continuou vigorosa, apesar do fraco desempenho da indústria. Embora a economia tenha crescido menos que em 2010, a inflação foi puxada pelo aumento do emprego e da renda, como observou a coordenadora dos índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Poderia ter mencionado também a expansão do credito, registrada mensalmente pelo próprio BC.
Durante a maior parte do ano o governo atribuiu as pressões inflacionárias à alta das cotações de produtos básicos no mercado internacional. A perspectiva de estabilização ou redução desses preços, por causa da crise internacional, foi uma das justificativas oficiais para a redução da Selic iniciada em agosto.
Os números do IBGE continuam contrariando a tese oficial sobre as causas da inflação. Aumentos de gastos com empregados domésticos, escolas e refeições fora de casa estão fortemente ligados à elevação da renda, observou a responsável pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência da política de metas. Em 2010 os preços dos serviços aumentaram 8,1%. Em 2011 subiram 9,4%. Essa variação representou 31% da alta geral do IPCA. Educação, despesas pessoais, saúde e cuidados pessoais e habitação encareceram mais que no ano anterior.
Três desses itens subiram mais que a média geral dos preços e esse movimento dependeu muito mais das condições da demanda interna que da influência das cotações internacionais das mercadorias agrícolas e de outros produtos básicos. Houve, portanto, inflação de demanda, alimentada tanto pelo aumento da renda e do crédito quanto pelas despesas do setor público.
Governo e BC prometem para 2012 uma inflação bem mais próxima do centro da meta - abaixo de 5%, segundo o secretário executivo do Ministério da Fazenda. Não prometem, por enquanto, atingir o centro do alvo, embora o presidente do BC reafirme, de vez em quando, o compromisso com esse objetivo. A promessa de resultados melhores continua baseada em dois pressupostos: o efeito desinflacionário da crise externa e a adoção da austeridade fiscal no Brasil.
Nenhuma dessas condições está garantida, por enquanto, embora tenha ocorrido, recentemente, algum recuo nos preços das commodities. Quanto à austeridade fiscal, o governo terá de praticá-la num período de eleições municipais e de fortes pressões políticas. Além do mais, um dos objetivos oficiais para 2012 é um crescimento econômico na faixa de 4,5% a 5%. A pressão de demanda, evidente em 2011, tenderá, portanto, a repetir-se em 2012. Essa pressão, mais uma vez, forçará um aumento das importações. Se a hipótese quanto aos preços das commodities for confirmada, a receita de exportações será prejudicada e as contas externas ficarão mais frágeis. O Brasil ficará em má situação se o governo for incapaz de arrumar esse quebra-cabeça.
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