
17 de julho de 2014 | 02h04
Falta cumprir ainda 3 dos 43 três mandados de prisão expedidos pela Justiça. Dois são de acusados que se encontram fora do País, de onde ajudam a controlar o tráfico de droga do PCC. Um deles, Wilson José Lima de Oliveira, o Neno, está em Orlando, nos Estados Unidos. Já Fabiano Alves de Souza, o Paca, age no Paraguai. Mais 47 mandados de busca permitiram apreender 100 quilos de cocaína e crack e 43 de maconha, armas e farta documentação. Uma análise preliminar desse material mostra o alto nível de organização do PCC e como funciona o esquema de tráfico de drogas - talvez o ramo mais lucrativo de seus negócios ilegais.
A distribuição da droga, que vem principalmente da Bolívia, começa na Cidade Tiradentes, na zona leste, e em bairros da zona sul, e de lá é levada, em pequenas quantidades, para o restante da cidade. Só essa parte do tráfico na capital paulista rende, de acordo com os dados colhidos, cerca de R$ 5 milhões por mês.
Um dos principais objetivos da operação era chegar aos elementos da cúpula, ou próximos deles, que participam do planejamento das ações criminosas e das operações financeiras do PCC. Segundo o Deic, dois dos presos fazem parte do alto escalão da organização criminosa - um seria uma espécie de "diretor operacional" para as ações realizadas fora dos presídios e o outro oferecia local seguro para as reuniões do grupo, uma loja de carros usados de sua propriedade, na zona leste.
As informações colhidas têm uma dupla utilidade para a polícia - conhecer melhor como funciona a administração do PCC e como ele opera a distribuição de droga, em especial na capital e na Grande São Paulo, que ao que tudo indica são o principal centro dos seus negócios. Isso deve facilitar o combate ao tráfico, e as próximas ações da polícia nesse sentido vão indicar se ela está preparada para tirar todo o proveito possível dessa investigação que conduziu tão bem.
Os documentos apreendidos levantam também uma suspeita altamente inquietante - a de que alguns policiais civis e militares têm ligação com o tráfico do PCC. Segundo o secretário de Segurança, Fernando Grella Vieira, as Corregedorias das Polícias Civil e Militar vão investigar o grau de envolvimento deles com o crime. A cooptação de policiais por organizações criminosas é bem conhecida. O fato em si, portanto, não surpreende. O que distingue as polícias eficientes e vigilantes das demais é a capacidade que elas têm de identificar suas ovelhas negras e puni-las exemplarmente. É o que se espera que a polícia paulista faça.
O combate sem trégua ao PCC deve ser uma das prioridades do setor de segurança pública, que inclui tanto o aparelho policial como a administração penitenciária. Isso porque são várias as razões que atestam a natureza particularmente preocupante dessa organização criminosa. A começar pelo fato de que ela atua ao mesmo tempo dentro e fora dos presídios. Segundo o referido trabalho do MPE, o PCC controla 90% dos presídios paulistas.
Como se isso não bastasse, ele já está presente na maioria dos Estados (em 22 deles) e em 2 países vizinhos (Bolívia e Paraguai), locais de produção e escoamento das drogas, e - sabe-se agora - também nos Estados Unidos. Ou se faz um esforço muito maior para desarticular o PCC ou ele tem tudo para se tornar um verdadeiro pesadelo para a segurança pública. E esse, como se vê, não é mais um problema apenas de São Paulo.
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