02 de agosto de 2012 | 03h09
Embora positiva, a média geral, de 0,2%, encobre um cenário bem pior do que talvez pareça à primeira vista. Apesar do nível de emprego ainda elevado, a situação da indústria brasileira piorou consideravelmente desde o ano passado e hoje destoa muito menos do padrão internacional. As medidas tomadas pelo governo para isolar o País da crise externa, ou para reduzir, pelo menos, o risco de contágio, foram insuficientes, até agora, para impulsionar a indústria de transformação. A manutenção do emprego, a elevação do salário real, a rápida expansão do crédito e a redução de impostos para alguns setores estimularam o consumo, mas a produção manufatureira foi incapaz de acompanhar a demanda interna.
Parte desse estímulo foi aproveitada por produtores estrangeiros bem mais preparados para disputar espaço nos mercados. O recuo da atividade industrial brasileira reflete, entre outros fatores, o aumento das importações e a deterioração do saldo comercial. A presença do concorrente de fora ajuda a explicar os números ruins acumulados a partir de 2011. No primeiro semestre, a produção foi 3,8% menor que a de janeiro a junho do ano passado. O resultado acumulado em 12 meses diminuiu 2,3%.
A pequena reação de maio para junho foi amplamente insuficiente, portanto, para a retomada do nível de atividade do ano passado. As maiores perdas em 2012 continuam no setor de bens de capitais, isto é, de máquinas e equipamentos. A fabricação desses bens aumentou 1,4% de maio para junho, mas a produção do primeiro semestre foi 12,5% inferior à de um ano antes.
Quando se examina o período de 12 meses, há uma pequena mudança no conjunto, com redução de 7,6% na produção de bens duráveis de consumo e de 5,5% na fabricação de bens de capital. Durante esses 12 meses, no entanto, a política anticrise estimulou o consumo e abriu espaço para alguma recuperação das indústrias de bens duráveis, como a de automóveis e a da linha branca. O estímulo, no entanto, foi insuficiente para levar o empresariado a investir com maior entusiasmo em máquinas e equipamentos. Autoridades fizeram apelos ao espírito animal dos empresários, mas sem resultados. Mesmo nos setores beneficiados por facilidades fiscais e medidas protecionistas o efeito foi muito limitado.
São necessárias mais que medidas de ocasião para estimular o famoso espírito animal a assumir os custos e riscos do investimento. Mesmo as intervenções no mercado de câmbio e as pressões pela redução dos juros produziram resultados modestos.
Acumulam-se no mercado internacional os sinais de piora do cenário econômico. A indústria enfrenta dificuldades crescentes e isso deve resultar em competição muito mais dura em todos os mercados. Esses fatores podem dificultar a esperada reativação da economia brasileira. Mesmo com algum otimismo, no entanto, é difícil prever para os próximos anos um crescimento médio, no Brasil, muito acima de 4%. A política do governo tem dado prioridade a pacotes setoriais e conjunturais, insuficientes para aumentar o potencial de expansão econômica ao longo de vários anos.
O governo continua concentrado em medidas de varejo, enquanto o País precisa de mudanças no atacado.
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