14 de dezembro de 2011 | 03h08
Apesar da tensão nas bolsas, houve boas notícias no começo da semana. Governos conseguiram rolar suas dívidas em condições melhores que as das últimas semanas. Na terça-feira, o Tesouro espanhol vendeu 4,9 bilhões em títulos de 12 e 18 meses, com juros abaixo dos fixados em outros leilões. O volume comprado foi maior que o oferecido inicialmente. Os governos da Hungria e da Bélgica também realizaram boas vendas, em condições iguais ou melhores que as obtidas em operações anteriores. O Tesouro grego rolou o necessário, embora com juros ligeiramente mais altos. Outro bom resultado foi obtido pelo fundo de resgate - a Linha de Estabilidade Financeira Europeia - com a captação de 2 bilhões no mercado.
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a comprar papéis da Itália e da Espanha no mercado secundário. Esse tipo de operação tem sido importante para garantir liquidez aos títulos soberanos e para dar algum alívio aos Tesouros. Mas haverá limites para as compras, advertiu na semana passada o novo presidente do BCE, Mario Draghi. Além disso, o banco não deverá transformar-se em financiador de última instância dos governos. Essa orientação, defendida principalmente pelo governo alemão, prevaleceu na reunião de cúpula.
Foi uma notícia ruim para os investidores e credores das dívidas soberanas e isso explica, em parte, as manifestações de mau humor na fase de ressaca. O BCE tem sido um importante fator de estabilização nos momentos de maior insegurança e é a instituição mais preparada para missões de socorro urgente. Além disso, pode emitir moeda e por isso dispõe, pelo menos no curto prazo, de um poder de fogo respeitável. Seria necessário, é claro, neutralizar o efeito inflacionário das emissões, mas esse detalhe nem sempre é lembrado. No entanto, funcionar como emprestador de última instância para os Tesouros não faz parte do mandato do BCE, têm advertido políticos e especialistas.
A ressaca política também tem sido intensa. No Reino Unido, o vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, criticou a decisão de David Cameron de vetar os acordos negociados em Bruxelas. Cameron justificou a iniciativa como necessária para salvaguardar o setor financeiro britânico. Faltavam garantias na reforma proposta pelos governos da Alemanha e da França, argumentou. Mas o Reino Unido, segundo ele, tem interesse em continuar no bloco. A crítica de Clegg apenas explicitou mais uma vez a diferença entre os componentes da coalizão de governo - liberais muito mais favoráveis que os conservadores a uma integração europeia mais completa.
O isolamento britânico foi condenado também no continente. A partir da reunião de cúpula, há claramente, disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy, duas Europas, "uma em busca de maior solidariedade e maior regulação e outra presa à lógica exclusiva do mercado único". "Mas", acrescentou, "nós precisamos da Grã-Bretanha." A conferência de sexta-feira criou algumas das condições necessárias para remendar as finanças europeias. Mas abriu - ou ampliou - uma brecha política e acrescentou um item à lista dos consertos necessários.
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