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A greve da USP

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Por Redação
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Com exceção da decisão da reitora Suely Vilela de recorrer rapidamente à Justiça para assegurar o livre acesso à Cidade Universitária e ao seu próprio gabinete, a greve por tempo indeterminado dos servidores da Universidade de São Paulo (USP) em nada difere das que há anos vêm sendo deflagradas, quase sempre a partir de maio, pelos servidores da instituição. A recorrência do protesto é tanta que alunos e professores estão fazendo uma espécie de "bolão" para ver quem acerta o número de dias não trabalhados. Ao adotar medidas preventivas, pedindo à Justiça que autorizasse a Polícia Militar a dissolver piquetes nos prédios das principais coordenadorias e unidades de ensino da USP na Cidade Universitária, a reitora mostrou ter aprendido a lição da greve de 2007. Na ocasião, ela contemporizou com os líderes dos servidores e dos alunos e acabou tendo seu gabinete invadido por baderneiros que quebraram móveis, vidros e telefones, roubaram computadores e rasgaram documentos - inclusive os relativos a processos administrativos abertos contra funcionários. Os prejuízos foram estimados em R$ 346 mil. Desde o início da greve deste ano, em 5 de maio, a PM já teve de atuar duas vezes para impedir piquetes e coibir depredações. A última tentativa da invasão do prédio da Reitoria, ocorrida na semana passada, causou prejuízos de R$ 10 mil. Como era esperado, diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), com o apoio de estudantes vinculados a micropartidos radicais, classificaram a intervenção da PM como "militarização do campus". E sete professores promoveram um "protesto pedagógico", transferindo suas aulas para os gramados da Cidade Universitária. Os servidores reivindicam 16% de aumento, mais a incorporação de R$ 200 aos salários, sob a justificativa de reduzir "injustiças sociais". Os professores, que também estão decidindo se cruzam os braços, pedem um reajuste de 6,1% de aumento, a título de reposição da inflação, e mais 10% a pretexto de "recuperar perdas históricas". Mas a greve tem outras motivações. A USP tem cerca de 15 mil funcionários, mas cerca de 5,2 mil estariam ameaçados de ser demitidos por determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE) porque suas vagas foram abertas sem autorização da Assembleia Legislativa, como determina a legislação. Os servidores também denunciam a "criminalização dos movimentos sociais", pedem a revogação das punições aplicadas a ativistas que depredaram ou invadiram edifícios governamentais em nome da "defesa da universidade pública" e exigem a readmissão do "companheiro" Claudionor Brandão, dirigente do Sintusp com folha corrida na Polícia. Tendo sido contratado em 1987 como técnico de ar-condicionado, ele se converteu em líder sindical e foi demitido por justa causa depois de ter participado da invasão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, há quatro anos, quando ameaçou a integridade física de funcionários e pôs em risco o acervo da biblioteca da instituição. Para o Sintusp, o comportamento de Brandão teria sido apenas um "ato legítimo de protesto" e a punição a ele aplicada feriria "direitos democráticos". A pauta de reivindicação dos professores também é corporativa e política. Além do reajuste salarial, eles pedem a expansão do ensino superior público, autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, democratização da estrutura administrativa e do funcionamento dos colegiados e revogação das "políticas que terceirizam o trabalho". Aliados ao Sintusp, os docentes defendem a garantia de manutenção do emprego dos 5,2 mil servidores cuja nomeação está sendo contestada pelo TCE, denunciam uma hipotética "apropriação privada" dos hospitais universitários e criticam duas iniciativas do governador José Serra - o projeto de criação da Universidade Virtual e a ampliação dos cursos de Ensino a Distância. A tentativa de envolver Serra, que é um dos postulantes do PSDB à Presidência da República, no pleito de 2010, confirma o caráter político da greve da USP, que hoje completa seu primeiro mês de duração.