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A impotência do G-20

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Por Redação
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A economia global continua na zona de perigo e os países do G-20 precisam fortalecer sua resistência a novos choques, advertiu a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Ninguém ignora a importância dessa advertência, mas os líderes das principais potências econômicas se mostram incapazes de repetir a cooperação de 2008-2009, quando os choques causados pelo estouro da bolha financeira se espalharam pelo mundo. Saudado naquele tempo como o novo comitê executivo da economia global, o fórum constituído pelos chefes de governo, ministros e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 vem-se mostrando cada vez menos eficaz como centro de decisões e de articulação de políticas. O prolongamento da crise na Europa - que gera risco para todas as regiões - é em grande parte um reflexo dessa incapacidade. Na Cidade do México, no último fim de semana, autoridades econômicas do grupo tentaram, mais uma vez, avançar na busca de soluções para o drama europeu e para os mercados internacionais. Mais uma vez, a unanimidade exibida nas palavras do comunicado final é apenas aparente e novamente as ações necessárias para a solução dos problemas foram adiadas. O impasse mais evidente envolve as autoridades alemãs e sua resistência à ampliação dos meios de resgate financeiro da Europa. O Parlamento alemão aprovou nesta segunda-feira o novo pacote de 130 bilhões de ajuda conjunta à Grécia. Mas o governo alemão e seus aliados continuam contrários à formação de um fundo de mais de 500 bilhões para estabilização financeira na região. Enquanto o impasse continua, também se atrasam as decisões sobre novos recursos para o FMI e sobre a contribuição dos grandes emergentes para esse esforço. A diretora-gerente da instituição havia proposto levantar US$ 500 bilhões adicionais para reforçar sua capacidade de ajuda aos países em dificuldades. Governos dos maiores países emergentes, incluído o do Brasil, dispuseram-se a contribuir para as operações de socorro por meio de novos aportes ao Fundo. Mas todos esses pontos estão condicionados à decisão dos europeus sobre a ampliação de seus recursos de estabilização. Segundo o comunicado oficial do G-20, essa decisão será um fator essencial para o esforço de mobilização de dinheiro para o FMI. Em comentário sobre a reunião, a diretora-gerente Christine Lagarde, também participante do encontro, repetiu as palavras do comunicado, além de recordar a própria sugestão: o aumento de US$ 500 bilhões na capacidade de empréstimo do Fundo deveria ser combinado com a formação, na Europa, de uma muralha protetora (firewall) com igual credibilidade e de tamanho adequado. Sendo membros do G-20, os alemães obviamente concordaram com o prazo estipulado para a decisão sobre o fundo europeu. Não assumiram, no entanto, nenhum compromisso quanto ao tamanho do muro de proteção. O jogo de pressões deverá continuar nas próximas semanas e qualquer decisão a respeito da participação do FMI e da contribuição dos emergentes ficará para abril. O assunto será com certeza um dos temas centrais da reunião de primavera do Fundo e, em paralelo, de mais uma discussão entre ministros do G-20. Na próxima quinta-feira, em Bruxelas, ministros de Finanças da zona do euro deverão examinar novamente a situação da Grécia, o acordo do Tesouro grego com os credores privados para perdão parcial da dívida e as condições de execução do programa de ajuste aprovado pelo Parlamento em Atenas. Apesar da aprovação desse programa e de estar praticamente certo o acordo com os bancos, restam dúvidas sobre o ajuste grego. Mais ajuda pode ser necessária, disse o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäeuble. Mas o problema europeu envolve outras economias e sua solução será difícil e penosa enquanto prevalecer a receita alemã.Sem a crise europeia, faltaria cuidar do desequilíbrio entre superavitários e deficitários, especialmente Estados Unidos e China, tema importante para todos e há muito tempo em pauta. Também diante desse problema o G-20 tem sido impotente.