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A indústria e a política de incentivos

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Por Redação
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Ao publicar os resultados da indústria no 1º semestre, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) comentou que foram os piores da série iniciada em 2003. Por seu lado, o IBGE notou que o nível de emprego em junho foi o pior desde 2001. As duas análises concordam, porém, que junho registrou uma retomada da atividade industrial, embora muito incipiente. É interessante que os dados para o 1º semestre, da CNI e do IBGE, vão na mesma direção. A diferença pode vir do fato de que o IBGE inclui as indústrias de transformação e extrativa, não levadas em conta pela CNI, e que o IBGE fala do volume da produção, enquanto a CNI se refere ao faturamento, que pode ser diferente da evolução da produção física. O 1º semestre apresentou queda de 7,7%, nos dados na CNI, e de 13,4%, nos do IBGE; o nível de emprego, queda de 2,8% e de 5,1%, respectivamente; as horas pagas, queda de 8,4% e de 5,8%; e a folha salarial real, queda de 1,7% e de 1%. Como se verifica, existe uma evolução no mesmo sentido nas duas pesquisas, que mostram que, apesar de uma forte queda da produção, a do nível de emprego não foi tão acentuada nem foi compensada por um aumento das horas trabalhadas. A massa salarial também não caiu tanto, o que se poderia explicar pelo fato de que as empresas procuraram manter empregados mais qualificados, o que se comprova com a informação do IBGE de que, no 1º semestre, a folha de pagamentos na indústria de transformação acusava redução de 2,1%, mas a folha "per capita" crescia 3,3%. Os dados da CNI nos permitem examinar os efeitos da política de incentivos setoriais. No 1º semestre a indústria de veículos automotivos, que se beneficiou dessa política, teve queda de 4,6% do faturamento, de 7,5% no nível de emprego, de 4,9% na massa salarial, e de 18,8% nas horas trabalhadas, o que mostra que a ajuda do governo favoreceu mais o faturamento, enquanto a queda do emprego continuou forte e mais ainda a das horas pagas, o que permite questionar a eficiência dessa política. Um setor como o de material elétrico - que depende de investimento - teve redução de 16% do faturamento, de 13,4% do emprego, de 7,6\% das horas pagas e de 4,3% da massa salarial, sem os incentivos. A recuperação da indústria será lenta e o fato de que a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) se reduziu de 0,3 ponto porcentual no mês de junho, em relação a maio, causa preocupação.