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A indústria em convalescença

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Por Redação
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O campeão do otimismo em relação à indústria continua sendo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o primeiro a apontar o aumento de produção de 0,2% de maio para junho como o início da recuperação. Mas agora ele dispõe de pelo menos mais duas informações positivas para justificar seu entusiasmo. A maior parte das empresas começou o segundo semestre com estoques mais baixos e, portanto, com melhores condições para maior atividade. Além disso, a expectativa de uma forte reação do setor automobilístico em julho foi confirmada. A produção de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus foi 8,8% maior do que no mês anterior e o número de empregados nas montadoras chegou a 147.714, com aumento de 0,5%. Apesar dessas boas notícias, ainda convém ser cauteloso ao avaliar as perspectivas do setor manufatureiro. O cenário externo continua desfavorável e, internamente, os produtores brasileiros continuam sujeitos a uma porção de entraves bem conhecidos. Além disso, os dados positivos mostram apenas uma parte da evolução recente da indústria.A produção das montadoras no mês passado ainda foi 3,6% menor que a de julho de 2011. Além disso, o total produzido entre janeiro e julho deste ano foi 8,5% inferior ao acumulado em igual período do ano passado. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) beneficiou o setor, mas essa vantagem deve desaparecer no fim de agosto. Não haverá prorrogação, segundo disse na semana passada o ministro da Fazenda. De toda forma, a situação dos estoques melhorou e hoje há muito menos carros encalhados nos pátios do que há alguns meses. Falta ver como se comportarão os consumidores, sem o estímulo fiscal, e quantos novos compradores entrarão no mercado depois do ingresso de um enorme contingente nos últimos anos. Quanto ao ajuste de estoques, foi mais acentuado nas indústrias de bens duráveis de consumo, como a automobilística e a da linha branca. Em alguns segmentos de não duráveis os estoques aumentaram. Além disso, a recuperação dependerá do vigor da demanda interna e da capacidade das empresas de enfrentar a concorrência estrangeira e defender sua participação no mercado nacional. As dificuldades de competir continuam muito sérias, apesar da depreciação do real, por causa das desvantagens em relação a custos. No mercado externo os problemas são até maiores. A fraca demanda no mundo rico e a desaceleração na economia chinesa agravam os problemas já consideráveis de uma indústria sem grande poder de competição. Na semana passada, os economistas do setor financeiro e dos escritórios consultados para a pesquisa Focus, do Banco Central, baixaram mais uma vez suas projeções para o setor industrial. Segundo o novo levantamento, fechado na sexta-feira e divulgado nessa segunda, a produção da indústria em 2012 será 0,69% menor que no ano passado. Na semana anterior, a previsão era de um recuo de 0,44%, Quatro semanas antes ainda se calculava um modestíssimo crescimento de 0,1%. A estimativa de variação do PIB foi reduzida de 1,9% para 1,85%. Essas previsões foram coletadas antes de conhecidos os novos números das montadoras. Mas a probabilidade de uma forte reação de junho para julho já havia sido divulgada.Para 2013 os especialistas consultados na pesquisa Focus preveem produção industrial 4,4% maior que a de 2012 e um crescimento de 4% para o PIB. Se confirmados, serão resultados ainda muito fracos, depois de dois anos bem ruins para a indústria brasileira. Mas até essas previsões poderão revelar-se muito otimistas, se a indústria continuar sujeita aos muitos entraves hoje enfrentados para produzir e para sobreviver diante dos concorrentes externos. O governo promete novos estímulos, com redução de impostos sobre a eletricidade, mais protecionismo e - talvez - desoneração da folha de pessoal de mais alguns setores. Pacotinhos setoriais e temporários já se sucederam desde o início da crise, com resultados pífios. É preciso pensar em algo mais sério, mais amplo e de maior alcance.