
08 Junho 2014 | 02h04
A conjuntura explica a desconfiança. As perspectivas de baixo crescimento da economia, aliadas ao custo cada vez mais alto da energia e sua possível escassez, além da lenta recuperação do mercado internacional, desestimulam planos arrojados. "Os empresários estão fazendo investimento defensivo", disse José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia, responsável pela pesquisa.
Investimento defensivo é aquele feito em inovação, que barateia a produção em lugar de expandi-la, sem perder participação no mercado. A pesquisa da Fiesp, feita entre fevereiro e abril, mostra que os investimentos em novas tecnologias são os únicos que deverão ter crescimento, calculado em 2,2% em relação a 2013.
Houve recuo em diversos outros indicadores. O maior, de 7,2%, foi verificado na intenção de investimento em máquinas e equipamentos. Deve haver diminuição também na área de gestão (-1,4%) e de pesquisa e desenvolvimento (-1,9%).
Mesmo as indústrias que decidiram investir não o farão com entusiasmo. Haverá redução de 4,7% no desembolso, que deve atingir R$ 175,1 bilhões. Será o terceiro ano seguido de queda. No ano passado, o volume chegou a R$ 183,7 bilhões.
Os sinais de desaceleração já são evidentes. O setor de máquinas, que serve como um barômetro dos investimentos, registrou no primeiro trimestre, em comparação com igual período de 2013, uma queda de 14% no consumo aparente (produção nacional, somada à importação e descontada a exportação).
"Estamos exaustos", disse ao Globo o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira. Para ele, o grande problema é a gastança do Estado brasileiro, que impede a redução dos juros. "Ter 39 Ministérios é passar um recado de desperdício para todos", afirmou. Com isso, os investimentos são desestimulados - prova disso é o Índice de Confiança de Investimentos da Fundação Getúlio Vargas, que teve um recuo de 6,7% em abril, a maior queda desde a grande crise global de 2009. De 72 setores pesquisados, houve redução da confiança dos empresários em 77% deles, o maior grau de difusão desde abril de 2010.
O impacto desse desânimo no investimento global da economia deverá ser significativo, porque a indústria responde por 55% do total. Há consultorias que esperavam uma alta de 2% neste ano e agora já calculam que haverá uma queda de até 2%.
Com base na intenção das indústrias, a Fiesp calcula que o investimento global da economia chegará a 17,9% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, inferior aos 18,4% do ano passado e também menor do que os 22,4% esperados pelo Plano Brasil Maior, o programa federal de estímulos à produção industrial.
A desidratação da indústria é resultado das estratégias equivocadas do governo federal, cuja política para o setor limita-se a incentivos a determinados setores e a empresas "campeãs nacionais". Como resultado, o emprego industrial vem apresentando seguidas quedas, e o Brasil sofre para concorrer mesmo em mercados antes cativos, como a Argentina.
Ainda assim, apesar de tamanha evidência de fracasso, a presidente Dilma Rousseff não se constrange em defender o modelo. "Não fui eleita para colocar o País de joelhos, para acabar com a política industrial do País", disse ela em recente discurso, atribuindo à oposição a intenção de fazer aquilo que ela já fez.
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