24 de fevereiro de 2016 | 02h55
O IPCA-15 de fevereiro aumentou 1,42%, bem mais que o de janeiro, quando a variação bateu em 0,92%. A alta acumulada em 12 meses chegou a 10,84%. O número final do mês deve ser divulgado no começo de março. Poderá ser menor que o da prévia, mas com certeza pouco animador. Dirigentes do Banco Central (BC) têm reiterado, no entanto, uma previsão razoavelmente otimista. Segundo eles, a taxa de 12 meses cairá cerca de dois pontos até o fim do semestre. Confiam na ação combinada de dois fatores – a recessão e os juros de 14,25% ao ano.
Analistas do mercado puseram em dúvida essa redução, depois de conhecido o IPCA-15 de fevereiro. Alguns até indicaram a disposição de corrigir, para mais, suas previsões para este ano. Os mais otimistas falaram sobre uma desaceleração dos aumentos nos próximos meses, mas ainda estimando uma inflação em torno de 8% até o fim de 2016.
As projeções formuladas por economistas de instituições financeiras e de consultorias subiram desde o começo do ano. Muitos ainda apostam num resultado inferior aos 10,67% do ano passado, mas a distância entre as previsões e esse número tem diminuído rapidamente. A expectativa piorou de forma acentuada a partir da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom).
A maioria do Comitê, formado por dirigentes do BC, preferiu evitar uma nova alta de juros, contrariando, de forma surpreendente, as indicações fornecidas durante um mês e meio. Na ocasião, a piora repentina das condições internacionais foi mencionada como principal motivo da decisão.
A manutenção dos juros em 14,25% foi interpretada como submissão à presidente Dilma Rousseff. Seria um sinal de tolerância à inflação e isso foi incorporado nas projeções dos economistas do setor privado. Semanas depois surgiu uma nova informação: o BC já havia, antes da reunião do Copom, estimado para 2016 uma contração econômica próxima de 3%. No fim do ano passado a projeção estava em –1,92%.
Permanece a questão: o BC estará disposto a aceitar uma inflação parecida com a de 2015, mantendo ou reduzindo os juros para evitar uma pressão maior sobre a atividade? O presidente do BC, Alexandre Tombini, respondeu numa entrevista recente a uma parte da pergunta. Não há, segundo ele, perspectiva de redução dos juros. Além disso, ele e outros diretores têm reafirmado o compromisso com a busca da estabilidade de preços.
Não está claro se o respeito a esse compromisso envolverá, nos próximos meses, novos aumentos de juros. Não há, portanto, sinais de uma ação mais dura para a contenção dos aumentos. A instabilidade cambial continuará sendo um fator de insegurança. A indexação, refletindo a alta inflação acumulada em 12 meses, ainda afetará fortemente boa parte dos preços. As contas públicas, um dos principais combustíveis dos aumentos, permanecem desajustadas e no rumo, tudo indica, de mais um amplo déficit primário (isto é, sem contar os juros). Por enquanto, resta apostar na recessão como principal fator anti-inflacionário. Qual a alternativa, quando falha o governo?
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