13 de dezembro de 2014 | 02h04
Neste ano e em boa parte do próximo a taxa acumulada em 12 meses deve continuar em torno de 6%, talvez muito perto, segundo algumas previsões, de 6,5%, o limite de tolerância. O aumento da renda e a expansão do crédito, embora moderada, segundo o Copom, devem manter em crescimento o consumo das famílias. Além desses, outros fatores também deverão sustentar a inflação.
A ata menciona "importantes reajustes de preços relativos", numa referência à provável correção de tarifas e preços contidos politicamente e aos efeitos da esperada valorização do dólar. A alta da moeda americana poderá encarecer os importados e afetar tanto os custos quanto os preços finais de vários produtos. O texto menciona também um fator bem conhecido nos últimos anos, o aperto no mercado de trabalho, com oferta escassa de mão de obra, principalmente qualificada. Essa condição tem resultado em aumentos salariais superiores aos ganhos de produtividade. Esse descompasso tem afetado os custos de produção, prolongado o desajuste entre oferta e demanda e reduzido o poder de competição da indústria brasileira. A diminuição do emprego industrial nos últimos três anos é uma das consequências desse desacerto.
Sem discutir especificamente os danos causados à indústria, os autores da ata enumeram, como em várias outras ocasiões, os estragos produzidos no conjunto da economia pela persistência da inflação elevada. A lista inclui, entre outros pontos, a deterioração da confiança de empresários e de consumidores, a redução do investimento, e a diminuição do potencial de crescimento e de geração de renda e de emprego.
Como de costume, a análise apresentada na ata passa longe de qualquer discussão da própria meta de inflação, muito alta pelos padrões internacionais. Uma taxa anual de 4,5% já seria bem maior que a da maior parte dos países concorrentes do Brasil, mas nem esse alvo tem sido alcançado. Nos últimos anos o governo se contentou com resultados dentro da margem de tolerância, também muito larga pelos padrões seguidos em outros países. A combinação da meta pouco ambiciosa com a tolerância manteve a inflação, nos últimos cinco anos, em torno de 6%, em alguns momentos acima até do limite. Essa é uma importante desvantagem quando se trata de competir no exterior e até no mercado interno, apesar do protecionismo brasileiro.
Mas há algum sinal de otimismo na ata. Os membros do Copom incluem nas suas avaliações a possibilidade de uma gestão mais séria das contas públicas, comprometidas nos últimos anos por excesso de gastos, incentivos fiscais mal planejados e ineficientes e muita promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais. Neste ano o descontrole fiscal ainda afetou a demanda interna e a inflação, reconhecem os autores da ata. Mas as contas públicas, acrescentam, poderão tender à neutralidade nos próximos dois anos, talvez migrando "para a zona de contenção fiscal". Esta hipótese, especialmente audaciosa, é uma novidade, explicável pela formação da nova equipe econômica e pelo compromisso de austeridade assumido pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Se a presidente respaldar esse compromisso, a aposta poderá dar certo.
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