09 de agosto de 2015 | 03h00
A inflação dos últimos dois meses saiu do padrão mais frequente. Em 2013 e 2014, a alta de preços foi quase nula em junho e julho, mas neste ano os aumentos chegaram, nesses meses, a 0,79% e 0,62%. A explicação mais simples envolve a pressão do dólar mais caro nos preços dos alimentos, a correção das tarifas de energia elétrica e os efeitos da seca em algumas áreas agrícolas. Mas nenhuma resposta diminui a importância dos fundamentos econômicos e da crise política.
Outros países também têm sido afetados pela seca e pelas oscilações no mercado internacional de câmbio, mas a inflação continua menor que a do Brasil na maior parte da América Latina. O quadro brasileiro é, claramente, muito particular. O real tem-se depreciado mais que outras moedas de países emergentes e em desenvolvimento, o desajuste das contas públicas é um dos maiores do mundo, o País está a um passo de ser rebaixado ao grau especulativo e a turbulência política amplia a insegurança.
A fraqueza do governo tornará muito difícil qualquer avanço na arrumação das contas governamentais. O déficit geral do setor público passou de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) nos 12 meses terminados em junho. Isso é mais que o triplo do déficit médio dos países da zona do euro, atualmente próximo de 2,5%.
Os dirigentes do BC anunciaram a intenção de interromper os aumentos da taxa básica de juros, elevada para 14,25% há pouco mais de uma semana. Mantida essa taxa por “tempo suficiente”, a inflação tenderá a diminuir no próximo ano e poderá, segundo eles, chegar à meta de 4,5% no fim de 2016.
Mas a pressão do dólar poderá acentuar-se nos próximos meses, até porque a esperada alta dos juros americanos poderá ocorrer, segundo as últimas previsões, em setembro. O BC voltou estes dias a intervir no mercado de câmbio e provavelmente insistirá nessa política se o risco de inflação alimentada pelo dólar se acentuar. A instabilidade cambial, no entanto, é apenas em parte associada à expectativa de mudança na política monetária dos Estados Unidos e à consequente valorização de títulos denominados em dólar. A insegurança quanto às perspectivas do Brasil já é suficiente para assustar os investidores.
Enfim, o problema da inflação envolve muito mais que a pressão cambial. Embora a economia brasileira esteja em recessão desde o ano passado, a alta de preços ainda se acelerou nos últimos meses. Mesmo com a atividade retraída e o desemprego em alta, ainda há riscos do lado da demanda. Os dirigentes do BC referem-se a isso indiretamente, ao justificar a alta de juros como forma de conter os “efeitos de segunda ordem” do realinhamento dos preços administrados e também do câmbio.
Mas há também pressões do lado da oferta, como comprova, entre outros dados, o encarecimento dos produtos industriais. Os preços dos produtos de origem industrial aumentaram, no atacado, 0,45% em julho, 4,39% no ano e 5,44% em 12 meses, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Há, segundo alguns analistas, problemas de rigidez do lado da oferta. Se essa avaliação estiver correta, a luta contra a inflação será bem mais dura e prolongada do que anuncia o pessoal do BC.
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