
01 Julho 2016 | 03h00
Depois de o chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa informar que a reunião não será realizada no dia 12, um funcionário da chancelaria apontou ao Estado duas razões para o adiamento: a resistência paraguaia à passagem da presidência temporária do bloco para a Venezuela, envolvida em uma crise econômica e institucional, e a interinidade do governo brasileiro. O embaixador paraguaio na Associação Latino-americana de Integração (Aladi), Bernardino Hugo Saguier Caballero, confirmou que seu país vetou a passagem da presidência aos venezuelanos.
Há um sistema de rodízio de seis meses na presidência do bloco entre os países-membros. No momento, o Uruguai ocupa o posto e, segundo as regras do bloco, o próximo seria a Venezuela. No entanto, a delicada situação do país governado por Nicolás Maduro gera apreensão nos outros países-membros do Mercosul. E o Paraguai tem razões ainda maiores para o veto.
Em junho de 2012, dois dias após o impeachment do presidente Fernando Lugo, o Paraguai foi suspenso do Mercosul por alegado rompimento da ordem democrática. A medida teve apoio dos Estados Partes do bloco – Argentina, Brasil e Uruguai – e dos Estados Associados – Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. A punição valeu até agosto de 2013, após a realização de novas eleições presidenciais. Na ocasião, o Paraguai também foi suspenso da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Em protesto contra o impeachment de Lugo, a Venezuela não apenas apoiou a medida punitiva aplicada pelo bloco sul-americano. O então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamou seu embaixador de volta a Caracas e determinou a suspensão do abastecimento de combustível para o Paraguai, que, na época, ao menos metade do combustível consumido em terras paraguaias era proveniente da Venezuela. Além disso, a Venezuela aproveitou a punição aplicada ao Paraguai para ter aprovada sua entrada no Mercosul, que vinha sendo obstada por Assunção.
O governo do Paraguai, que sempre defendeu a constitucionalidade do impeachment de Fernando Lugo, julga que quem não respeita a ordem democrática é o governo de Maduro e já pediu a aplicação contra a Venezuela da “cláusula democrática”, oriunda do Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no Mercosul, de 1998. Dessa forma, o governo de Assunção não vê sentido em transferir a presidência do Mercosul a um país cujo governo fere as regras do bloco.
Diante do veto paraguaio à Venezuela na presidência, o adiamento da Cúpula do Mercosul é uma opção de baixo custo para os países-membros. Afinal, ninguém tem especial interesse nesse momento em sua realização. O assunto mais importante do bloco é a negociação com a União Europeia. Após o plebiscito inglês no qual venceu a opção pela saída do Reino Unido do bloco europeu, Bruxelas tem outras prioridades que as negociações com o bloco sul-americano.
A atual situação de irrelevância do Mercosul dá-se, entre outros motivos, pelo desleixo dos governos de afinidade bolivariana com o bloco. Diziam-se preocupados em promover a integração regional, mas descuidaram daquele que poderia ser o principal elemento de união.
Retificação
Ao contrário do que informou editorial de 29 de junho, as atuais investigações sobre a máfia da merenda não envolvem o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP). A única menção a seu nome, feita no inquérito policial, já foi devidamente esclarecida, não havendo contra ele nenhuma denúncia.
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