Imagem ex-librisOpinião do Estadão

A Lei do Ato Médico

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Depois de 11 anos de tramitação, o projeto de lei que regulamenta o exercício da medicina no País foi finalmente aprovado pelo Senado e agora só aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff para entrar em vigor. Conhecido como Lei do Ato Médico, o texto - que estabelece como atividades exclusivas dos graduados em medicina a formulação de diagnósticos, a prescrição terapêutica e a realização de cirurgias e procedimentos invasivos - sofreu sucessivas mudanças na Câmara e no Senado e a versão aprovada colocou em lados opostos o Conselho Federal de Medicina (CFM) e os conselhos das demais profissões do setor de saúde.Para o CFM, a lei valorizará a profissão médica e aumentará a proteção dos pacientes. Já os outros conselhos da área de saúde acusam a Lei do Ato Médico de esvaziar sua autonomia. É esse o caso dos especialistas em acupuntura e parto normal. Eles alegam que, ao definir procedimentos invasivos como "invasão da derme e epiderme com uso de produtos químicos ou abrasivos" e "invasão da pele que atinja o tecido subcutâneo para injeção, sucção, punção, drenagem ou instilação", a lei restringe seu campo de atuação profissional. Já o Conselho Federal de Psicologia afirma que a lei impedirá os profissionais da área de identificar sintomas de doenças como depressão e transtornos. E o Conselho Federal de Enfermagem explica que enfermeiros e fisioterapeutas ficam proibidos de fazer diagnósticos e prescrever tratamentos e acusa a lei de colidir com as portarias do Ministério da Saúde, que preveem a realização de consultas pela categoria para a identificação de doenças como hanseníase, tuberculose, hipertensão e diabetes. Segundo os vários conselhos profissionais do setor de saúde, se a presidente Dilma Rousseff sancionar a Lei do Ato Médico sem vetos, vários protocolos de assistência à saúde terão de ser alterados - principalmente os que contam com a atuação de psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Pela Lei do Ato Médico, esses profissionais não poderão nem mesmo dirigir clínicas em sua área de especialização. O texto aprovado pelo Senado também concede aos médicos exclusividade na aplicação de anestesia em geral, emissão de laudos em exames de endoscopia e imagem e exames para diagnóstico de doenças ou para avaliar a evolução de tumores. Um dos pontos mais polêmicos da Lei do Ato Médico envolve a realização e emissão de laudo dos chamados exames citopatológicos (como papanicolau). Pelo texto aprovado em votação simbólica pelo plenário, essas atividades não são privativas de médicos. Contudo, a mesa do Senado alega que, no encaminhamento da votação, os líderes partidários teriam decidido que os médicos têm exclusividade na realização desses testes.As críticas mais contundentes à Lei do Ato Médico, no sentido de que ela relega todos os demais profissionais da área de saúde a uma "categoria de inferioridade" em relação ao médico, partiram do Conselho Federal de Enfermagem. Segundo a entidade, o texto "mantém uma organização hierárquica entre os que pensam e os que executam", além de ampliar a reserva de mercado dos médicos. A única exceção, nessa polêmica, foi o Conselho Federal de Odontologia, que era contrário ao projeto, mas recuou depois que conseguiu inserir no texto um parágrafo que afirma que as mudanças introduzidas pela lei não se aplicam "ao exercício da odontologia".A direção do CFM refutou essas críticas, alegando que os conselhos do setor de saúde fizeram "um cavalo de batalha com base em teses falsas". O texto "é claro: cada um em seu quadrado", diz o presidente da entidade, Roberto D'Ávila, depois de prometer chamar os presidentes das demais classes profissionais para discutir eventuais dúvidas e fazer acordos, caso Dilma sancione a lei sem vetos. Mas isso não está garantido, afirmou o ministro da Saúde. Apesar de valorizar a profissão médica, disse Alexandre Padilha, o governo quer "manter o conceito de equipes multiprofissionais".