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A lenta abertura

Obstáculos históricos ao crescimento das exportações vêm mantendo praticamente inalterado o peso das vendas externas na produção total da indústria

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Por Redação
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Mesmo reconhecido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) como fundamental para o crescimento da economia e para a geração de empregos no País, o comércio exterior parece estar estagnado justamente no setor manufatureiro, que é representado pela CNI. Obstáculos históricos ao crescimento das exportações, associados a problemas conjunturais de natureza política ou econômica, vêm mantendo praticamente inalterado o peso das vendas externas na produção total da indústria. Da mesma forma, pouco muda a proporção dos produtos importados no consumo total de bens industriais.

“No acumulado do ano (até junho de 2018), a indústria não aumenta o foco no mercado externo para suas vendas, na comparação com 2017 (janeiro-dezembro), enquanto mantém o crescimento das importações”, afirma o estudo Coeficientes de Abertura Comercial, da CNI. Publicado semestralmente, o estudo mostra, de um lado, a importância das exportações na sustentação da atividade produtiva da indústria nacional e, de outro, sua capacidade de responder à concorrência no mercado doméstico.

O coeficiente de exportação, que indica qual porcentagem da produção industrial foi destinada para o mercado externo, manteve-se estável nos 12 meses terminados em junho em comparação com o resultado de todo o ano de 2017. Nos dois períodos, a indústria exportou 15,7% do que produziu. O coeficiente chegou perto de 20% em 2005, mas diminuiu constantemente até 2014, quando ficou no menor nível (12,2%) desde 2003. O fundo do poço ocorreu no ano em que a economia entrou na recessão que marcou os últimos anos do governo lulopetista. Na fase mais aguda da crise econômica, que se estendeu de 2014 até o início do ano passado, o coeficiente voltou a subir, atingindo 15,9% em 2016, numa indicação de que o setor procurou no exterior o mercado que encolheu no País. O coeficiente pouco mudou desde então.

Já a participação dos produtos industriais importados no consumo aparente (que é a soma da produção destinada ao mercado interno com as importações) atingiu seu ponto mais alto em 2011 (18,8%). Caiu nos anos seguintes, até ficar em 16,5% em 2016. Desde então vem crescendo lentamente, tendo alcançado 17,5% nos 12 meses encerrados em junho deste ano.

A taxa de câmbio vem tendo papel importante nesses dois indicadores. O dólar forte favorece as exportações e tende a inibir as importações, que ficam mais caras em reais. Igualmente relevantes para o comportamento das exportações são o desempenho das economias que mais absorvem produtos brasileiros e a capacidade do setor industrial de conquistar mercados. A drástica redução das exportações de veículos nos últimos meses, provocada pela crise da Argentina (que absorve cerca de 70% das vendas externas do segmento), por exemplo, está forçando as montadoras a buscar a diversificação dos mercados. Do lado das importações, seu volume está condicionado também pelo ritmo da atividade econômica.

Esses são fatores de natureza conjuntural – aos quais devem ser acrescentadas as incertezas do cenário político –, e a eles o setor produtivo procura responder com a rapidez possível. Há outros, estruturais e históricos, porém, que dificultam o comércio exterior do País e impõem custos tanto para importadores como para exportadores, encarecendo a produção e retirando competitividade do produto brasileiro.

Entre os obstáculos ao crescimento do comércio exterior está a burocracia excessiva. A despeito da informatização de processos, as exportações estão sujeitas a mais de quatro dezenas de procedimentos exigidos por mais de dez órgãos públicos, segundo a CNI. Já as importações dependem do cumprimento de mais de 70 obrigações. Deficiências de logística e de infraestrutura igualmente encarecem a produção e a circulação de produtos. Por mais importante que seja para a economia, a expansão do comércio exterior continua a esbarrar em obstáculos antigos. Ainda há muito a fazer para melhorar o quadro.