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A ligação Santos-Guarujá

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Por Redação
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A ligação "seca" - isto é, sem o uso de embarcações - entre Santos e Guarujá não será mais por ponte, mas por um túnel pré-moldado com 900 metros de extensão, a ser assentado a 40 metros de profundidade e que será construído pelo governo do Estado a um custo hoje estimado em R$ 1,3 bilhão, como anunciou o governador Geraldo Alckmin na semana passada. É uma boa notícia. Mas a história dessa ligação, essencial para melhorar as condições de operação do Porto de Santos e facilitar o tráfego entre as duas cidades, recomenda que ela seja avaliada com alguma cautela. Esta é apenas a mais recente decisão, que pode ser revogada e substituída por outra, completamente diferente, daqui a pouco.A ligação seca entre Santos e Guarujá é um exemplo acabado de certo tipo de comportamento político e administrativo comum no País, marcado pelo anúncio de promessas para agradar ao eleitorado, mas de muito difícil execução, por questões técnicas, financeiras ou ambas. Essa prática pode resultar em ganhos eleitorais para políticos, mas deixa os cidadãos em longa e geralmente inútil espera.Incluída no Plano Regional para Santos elaborado há cerca de 70 anos pelo engenheiro Prestes Maia, a obra nunca teve sua importância e a necessidade de sua execução com urgência questionadas pelos administradores públicos de diferentes instâncias, mas também nunca saiu do papel. Para se apresentar bem ao eleitorado, governantes e candidatos a governantes alternaram as propostas para essa ligação, ora por cima - por ponte -, ora por baixo - por túnel, inclusive a última, que acaba de ser apresentada como a definitiva.A interligação mais eficaz entre as duas margens do Porto de Santos - uma na cidade de Santos, na Ilha de São Vicente, e outra no Guarujá, na Ilha de Santo Amaro - é apontada há várias décadas como vital para a dinamização do maior porto da América Latina. Atualmente, o percurso por terra de uma margem à outra é de cerca de 40 quilômetros.Nos últimos 18 meses, foram apresentados dois projetos de ponte entre Santos e Guarujá. Uma delas, reproduzida em maquete que o então governador José Serra descerrou na região, seria estaiada e construída na região onde operam as balsas - que serão mantidas. Outra, apresentada no início deste ano pela concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes, a Ecovias, teria 4.580 metros de extensão, ligando o cais do Saboó, em Santos, e a Rodovia Cônego Domênico Rangoni (Piaçaguera-Guarujá), na Ilha do Barnabé.Ao escolher o túnel como solução, o governo Alckmin apontou diversas restrições técnicas às pontes, onde quer que elas fossem construídas. Para permitir a passagem de grandes embarcações, como as que estarão em condições de operar em Santos depois da conclusão das obras de dragagem do canal do porto, a ponte deveria ter grande altura em relação ao nível do mar, o que exigiria rampas íngremes nas duas extremidades, impedindo a operação de caminhões de grande porte. Além disso, sendo muito altas, as pontes poderiam prejudicar as operações da Base Aérea de Santos e limitar sua expansão no futuro.São argumentos que, se procedentes, deveriam ter sido levados em conta quando da elaboração de outros projetos de pontes para a região.Quanto à construção do túnel, o governo aponta diversas vantagens, como suas dimensões suficientes para comportar o tráfego de pedestres (a travessia a pé poderia ser feita em 8 minutos), bicicletas, automóveis, caminhões e o futuro Veículo Leve de Transportes (VLT) - cuja implantação foi também anunciada por Alckmin, a um custo inicial de R$ 660 milhões para a ligação Porto-São Vicente.A tecnologia a ser utilizada na obra é inédita no Brasil, o que pode resultar em dificuldades na construção, e o tipo de túnel, segundo o governo, diminuirá o tempo de viagem, a necessidade de transporte público e o custo. Tudo isso só será comprovado - ou não - se, desta vez, afinal, sair a esperada ligação entre Santos e Guarujá.