27 de outubro de 2014 | 02h05
O relatório da OMC confirmou, nos aspectos essenciais, o diagnóstico já publicado no Brasil pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o estudo intitulado Comércio e Protecionismo em Bens Intermediários, do pesquisador Flávio Lyrio Carneiro, a abertura comercial do País pouco avançou nos últimos 20 anos, depois de um ensaio de liberalização. Em 2003, a tarifa média de importação ainda era de 13,62%. Em 2012 continuava muito alta, de 12,96%. A tarifa para bens intermediários - incorporados na produção de outros bens - passou de 12,01% para 10,96% nesse intervalo. A evolução foi muito mais sensível em outros emergentes e essa é uma das explicações para sua maior integração nas cadeias produtivas internacionais.
A expansão das cadeias globais de valores, com crescente presença dos países em desenvolvimento, é uma das quatro grandes tendências apontadas no relatório da OMC. As outras são o aumento da participação dos países em desenvolvimento na economia mundial, a valorização dos produtos agrícolas e dos recursos naturais e, como consequência da maior integração, o impacto cada vez mais amplo dos choques macroeconômicos.
Os países em desenvolvimento agora participam com cerca de metade do comércio de bens intermediários e isso é considerado um indicador de sua presença nas cadeias internacionais de produção. O intercâmbio Sul-Sul corresponde a um quarto das trocas desse tipo de mercadorias. Curiosamente, nos últimos 12 anos a diplomacia comercial brasileira privilegiou a integração comercial com economias emergentes e em desenvolvimento, mas essa orientação foi muito mais ideológica do que pragmática. O Brasil se envolveu em poucos acordos comerciais, geralmente com mercados pouco significativos, e continua à margem da maior parte das grandes transformações ocorridas no comércio global. Segundo o estudo da OMC, o Brasil é uma das três grandes economias, juntamente com Argentina e África do Sul, com menor participação nas cadeias de valor. A própria OMC já havia chamado a atenção para isso, alguns anos antes, ao dedicar um estudo especial a essas cadeias.
Para medir essa participação, os pesquisadores levam em conta o uso de insumos estrangeiros na produção de bens exportados por um país e o emprego de bens vendidos por esse país nas mercadorias exportadas por terceiros. A combinação desses valores correspondeu em 2008 - último dado incluído na pesquisa - a cerca de 40% do valor exportado pelo Brasil. Numa lista de 30 países desenvolvidos e em desenvolvimento, 25 apresentaram indicadores maiores que o brasileiro.
Presença nas cadeias globais de valor tende a proporcionar, para economias emergentes e em desenvolvimento, mais investimentos diretos estrangeiros, maior absorção de tecnologia, ganhos de produtividade e maiores oportunidades de geração de empregos de alta qualidade - além, é claro, de melhores condições de crescimento. A escassa participação nas cadeias produtivas globais coincide claramente, no caso brasileiro, com estagnação industrial, baixo poder de competição e produtividade emperrada. Não há surpresa nessa coincidência.
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