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A nova promessa chinesa

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Por Redação
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A maior potência exportadora, a China, terror dos concorrentes em quase todos os mercados, vai adotar uma política de câmbio mais flexível, anunciou no fim de semana seu banco central. As potências ocidentais há muito tempo acusam o governo de Pequim de manter o yuan desvalorizado para baratear as exportações chinesas. Segundo a avaliação quase unânime, essa é uma política desleal e incompatível com as boas práticas da competição. Congressistas americanos ameaçam impor barreiras a produtos chineses, se a distorção cambial for mantida. Dirigentes do FMI e do Banco Mundial participam do coro a favor da mudança cambial. A promessa chinesa, desta vez, surgiu uma semana antes de uma reunião do G-20, formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes. Diante da perspectiva de pressões mais fortes, Pequim se antecipou e tentou apresentar um discurso tranquilizador. A maioria dos governos cobra das autoridades chinesas duas mudanças. Como primeiro passo, o banco central da China deve descolar o yuan da moeda americana. Depois, deve permitir uma valorização suficiente para eliminar a vantagem competitiva "artificial". Este segundo passo é o mais importante. Mas o outro é significativo porque a moeda chinesa acompanhou o dólar durante 23 meses, desde o agravamento da crise nos EUA. Foi o recurso usado pelas autoridades de Pequim para neutralizar a depreciação da moeda americana. Esse expediente foi uma forma óbvia de manter o yuan desvalorizado e autoridades de quase todo o mundo reclamaram do truque. Segundo o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, o problema real era a desvalorização do dólar, porque a moeda chinesa apenas acompanhava a americana. Ele fez esse comentário em pelo menos duas ocasiões ? em abril, em Washington, e depois em Xangai, no dia 2 de junho. "Os Estados Unidos estão mantendo o dólar fraco para ajudar seu setor de exportação e a China não quer ser menos competitiva", disse Mantega. "O Brasil", acrescentou, "foi a maior vítima do dólar fraco." Ele parece haver esquecido de apenas dois detalhes: 1) o yuan já era subvalorizado antes da crise de 2008; 2) a China já tomava e continuou tomando mercados do Brasil na América Latina e também nos EUA e isso se explica em boa parte por sua política de câmbio. O governo chinês já havia prometido um câmbio mais flexível. Nos últimos cinco anos, essa promessa nunca resultou numa valorização significativa do yuan. A moeda chinesa nunca deixou de ser, durante esse período, um importante fator de competitividade. Os governos do mundo rico mantiveram a pressão sobre Pequim durante esse tempo, mas com êxito quase nulo. As conferências do G-20, instituídas em novembro de 2008, nunca foram um bom cenário para esse jogo. Em todas as declarações, sempre se destacou a importância de maior equilíbrio nas trocas internacionais, mas nunca houve, nem poderia haver, referência explícita ao yuan.Referências desse tipo continuaram ocorrendo nos encontros do G-7, composto pelas maiores economias capitalistas. A pressão poderia ser um pouco mais aberta na próxima conferência do G-20, no fim desta semana. Nessa fase de saída da crise, qualquer esforço para reduzir os desequilíbrios do comércio mundial ganha uma importância extraordinária.Mas o banco central da China tentou limitar as expectativas causadas pelo comunicado de sábado. A política será alterada, mas o yuan será mantido "basicamente estável e em nível razoável e equilibrado", segundo novo informe divulgado no domingo. A mensagem é provavelmente a seguinte: o câmbio será mais flexível, mas a valorização, se ocorrer, será lenta e gradual e ninguém deve cobrar mais do que isso. Autoridades da zona do euro receberam a promessa, apesar de tudo, com otimismo e palavras encorajadoras ao governo chinês. Segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, a China mostra boa disposição, "mas é preciso aguardar os próximos desdobramentos". Pelo menos ele, em Brasília, não se limita a jogar a culpa nos americanos.