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A orgia campineira

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Por Redação
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Aos casos de corrupção, no plano federal, que resultaram em inédita sucessão de demissões de ministros de Estado, acrescenta-se ao noticiário político-policial a cassação do mandato do prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos (PDT). Na madrugada do último sábado, ele perdeu o mandato por decisão praticamente unânime da Câmara Municipal (32 votos contra 1). Mas essa decisão já estava destinada a se tornar inútil como medida saneadora, porque os próprios vereadores já haviam se articulado para garantir a posse do vice-prefeito, Demétrio Vilagra (PT), um dos protagonistas do escândalo que causou a queda do prefeito e que é acusado pelo Ministério Público pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e fraudes em licitações. Em Campinas, como se vê, não houve uma crise político-partidária e, sim, o desbaratamento de uma verdadeira quadrilha de malfeitores que tomou conta da administração de um dos maiores e mais importantes municípios paulistas. Dr. Hélio, como é conhecido o prefeito cassado, estava em seu segundo mandato à frente do Executivo municipal de Campinas. As denúncias de irregularidades em sua administração começaram a tomar corpo meses atrás, envolvendo especialmente os assessores que trouxera de Mato Grosso, seu Estado natal, e sua mulher e chefe de gabinete, Rosely Nassim Jorge Santos, acusada de comandar um esquema de recolhimento de propina na prefeitura. Apesar de dispor de uma ampla base parlamentar, formada por nove partidos (PDT, PT, PMDB, PC do B, PSD, PPS, PTB, PRP e PSC), o clamor popular diante do escândalo acabou tornando impossível impedir a formação, em 23 de maio, de uma Comissão Processante na Câmara Municipal. Era o reflexo da decisão tomada dias antes pelo Ministério Público de solicitar a prisão temporária de 20 empresários e agentes públicos envolvidos em corrupção e fraudes em licitações em contratos de serviços de empresas terceirizadas na Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa). Foram presas onze pessoas. Outras nove foram consideradas foragidas, entre elas o vice-prefeito Demétrio Vilagra e os secretários municipais Carlos Henrique Pinto e Francisco de Lagos. Dias depois, ao regressar de uma viagem de férias na Espanha, Vilagra foi detido pela polícia no aeroporto. A primeira-dama e chefe de gabinete do prefeito, também investigada pelo Ministério Público, obteve um habeas corpus preventivo. O pedido de cassação do prefeito, levado a voto pela primeira vez cerca de um mês depois, foi derrotado por 16 votos contra 15 e 2 abstenções, já que era necessário quórum qualificado de 17 votos para aprovação. Finalmente, na madrugada do último sábado, depois de 44 horas de discussão, os vereadores decidiram decretar a cassação do mandato do Dr. Hélio.O vice-prefeito Vilagra, apesar das acusações a que responde, se disse "preparado para assumir o cargo de prefeito em prol da cidade". Pedido de formação de uma Comissão Processante, que poderia cassar o mandato de Vilagra - completando o saneamento -, solicitada pelo presidente do diretório municipal do PSOL, não foi aprovado. As bancadas do PDT e do PT encarregaram-se de bloquear a medida moralizadora. Na segunda-feira, já garantida a sua posse pela companheirada, mas ainda vice-prefeito - o Diário Oficial do município ainda não publicara o ato de cassação de Oliveira Santos -, o petista Vilagra, como sempre pouco preocupado com as formalidades, foi à prefeitura, instalou-se no gabinete do prefeito e, depois de instruir sua assessoria a informar que ele se considerava "prefeito a ser empossado", despachou normalmente com três secretários municipais e recebeu vários vereadores. Na manhã de ontem, Demétrio Vilagra assumiu o cargo de prefeito, em solenidade na Câmara Municipal. Pelo andar da carruagem, apesar da medida aparentemente saneadora do afastamento do prefeito Hélio de Oliveira Santos, nem as moscas devem mudar na orgia campineira.