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A Paulista mal reformada

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Por Redação
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O acúmulo de problemas na Avenida Paulista mostra que a reforma concluída há nove meses ao custo de R$ 8,1 milhões e a criação, pela Prefeitura, da primeira gerência de avenida da cidade não produziram até agora os resultados esperados. Como mostrou Daniel Gonzalez em reportagem publicada sexta-feira no Estado, a cada cem passos há um problema na avenida. Lixeiras danificadas, canteiros mal cuidados, calçadas quebradas ou com rachaduras, fios expostos, pichações são sinais de obras malfeitas ou que não foram adequadamente dimensionadas, de manutenção precária e de falta de fiscalização. Se o quadro não mudar, serão criadas as condições para que a Avenida Paulista, escolhida como o símbolo de São Paulo, retome o processo de degradação por que passou não faz muito tempo e que foi detido pela mobilização da comunidade. Moradores, empresários, entidades da área - reunidos na Associação Paulista Viva, criada em 1996 para preservar a região - e representantes do setor público uniram-se para deter sua decadência acelerada e iniciar sua recuperação. Era necessário restaurar as calçadas e as pistas de trânsito, afastar os camelôs e refazer a sinalização - para devolver a avenida a mais de 1 milhão de pessoas que por ela circulam. Devolver-lhe a beleza e a funcionalidade, enfim. Foi correta a decisão da Prefeitura de substituir o antigo mosaico português das calçadas, de manutenção cara e pouco seguro para os pedestres, por placas de concreto. A troca foi proposta na época pela Associação Paulista Viva, que sugeriu o uso do concreto pré-moldado. A Prefeitura, porém, optou pelo concreto moldado no local, solução mais barata. Mas a escolha resultou em material menos resistente, como se constatou há um ano, depois do início das obras. O cimento ao redor das juntas de dilatação começava a ceder e, em alguns trechos, as placas já apresentavam rachaduras. Na época, o secretário da Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, reconheceu que "a obra foi malfeita, fora dos padrões", e determinou que ela fosse refeita. Terminada a nova obra, a reportagem do Estado constatou que também foi malfeita. Há trincas nas áreas onde estacionam os carros-fortes que atendem as agências bancárias instaladas na avenida. As obras de concessionárias de serviços públicos produziram efeitos danosos na Paulista reformada. Há buracos e remendos em toda sua extensão, feitos pelas concessionárias para ter acesso à sua rede subterrânea. "Serviço porco", segundo o secretário Andrea Matarazzo. O cidadão tem o direito de perguntar que providência tomará a Prefeitura para corrigir o que foi malfeito e que punição será aplicada a quem o fez. Totens pichados, lixeiras danificadas são reflexos do vandalismo, que deve ser combatido por fiscalização mais intensa e, também nesse caso, pela punição dos responsáveis. Pior, para os que trabalham na região ou por ali circulam, é a visível redução do número de guaritas em operação. Elas foram instaladas pela Associação Paulista Viva para ampliar o policiamento de uma avenida que então era frequentada por trombadinhas e ladrões. O sistema de policiamento funcionou e os índices de criminalidade da Paulista baixaram drasticamente. Mas, agora, algumas guaritas permanecem vazias o dia inteiro, outras estão em mau estado de conservação. A falta de segurança volta a ser um problema sério na região. O gerente da Avenida Paulista, Heitor Sertão, diz que vai adotar um modelo que chama de "qualidade total", para o qual pretende obter a colaboração de quem trabalha e tem imóveis no local. A ideia, completa o secretário Matarazzo, é atrair empresas, bancos, condomínios e estacionamentos para que cuidem da calçada, fiscalizem e avisem a Prefeitura sobre irregularidades. Era o que fazia, até o início da administração Serra/Kassab, a Associação Paulista Viva, que durante alguns anos manteve com a Prefeitura uma parceria produtiva para a região. Essa parceria foi rompida por iniciativa da Prefeitura, que agora volta a buscar a colaboração dos que vivem e trabalham na Paulista.