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A perigosa dívida dos ricos

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Por Redação
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Mais um alerta contra a crescente dívida pública americana, hoje próxima de US$ 11,4 trilhões, cerca de 80% do produto interno bruto, foi lançado pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke. Quanto maior o débito, maior o pagamento de juros e maior o déficit, advertiu o presidente do Fed. Isso levará, afirmou, a uma situação insustentável. Este adjetivo foi usado há pouco tempo pelo presidente Barack Obama, ao propor um programa de ajuste das contas públicas para os próximos anos. Essa não é uma questão de interesse interno, mas um tema relevante para todo o mundo. Se o governo americano tiver de pagar juros mais altos para rolar seus títulos, outros países, incluído o Brasil, serão afetados, porque o dinheiro ficará mais caro no mercado internacional. A dívida federal americana tem aumentado à razão de US$ 3,8 bilhões por dia desde o fim de setembro de 2007. Isso é uma consequência do aumento do déficit público. O rombo nas contas federais, US$ 459 bilhões no ano fiscal de 2008, está estimado em US$ 1,75 trilhão neste exercício e deverá, segundo os planos do governo, diminuir para US$ 1,1 trilhão em 2010. Mas isso dependerá de freio no gasto público e, neste momento, a prioridade oficial é repor a economia em movimento. A grande expansão do déficit neste ano resulta principalmente das medidas anticrise adotadas a partir do terceiro trimestre de 2008, incluído o socorro ao setor automobilístico. Também na Europa os governos vêm gastando muito para atenuar a recessão e limitar os efeitos da crise em alguns setores produtivos e no sistema financeiro. Também a política monetária tem sido afrouxada. Ontem, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter os juros básicos em 1%, os menores desde sua criação. O Banco da Inglaterra também realizou a revisão periódica dos juros e conservou a taxa de 0,5% pelo quarto mês consecutivo. Com juros muito baixos e pouco espaço para continuar reduzindo o custo do dinheiro, os dois bancos centrais, assim como o americano, mantêm um programa de compra de títulos em circulação para injetar moeda no mercado. Apesar da política monetária expansiva e do aumento do gasto público, a atividade econômica permanece retraída nos Estados Unidos e na Europa. Alguns sinais positivos têm aparecido, mas insuficientes para permitir previsões mais otimistas para este ano. Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego diminuíram levemente nesta semana, mas o número de beneficiários continua acima de 6,7 milhões. O Fed continua estimando alguma reanimação da economia a partir do fim do ano. Na zona do euro, as vendas do comércio varejista foram 0,2% maiores em abril do que em março. Foi o primeiro aumento mensal desde setembro. Mas a nova projeção do BCE para 2009 é muito pior que a de março. Há três meses, calculava-se para este ano uma contração do produto entre 2,2% e 3,2%. Pela nova estimativa, a redução ficará entre 4,1% e 5,1%. Para 2010, a previsão fica entre uma contração de 0,7% e uma expansão de 1%. O panorama europeu continua menos animador que o americano e as piores perspectivas ainda são as da Europa do Leste. Vários países dessa área recorreram ao FMI para enfrentar a crise e sua recuperação deverá ser lenta. Embora a prioridade ainda seja o combate à recessão, também o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, está preocupado com a deterioração das contas públicas. O desequilíbrio fiscal na zona do euro poderá atrapalhar a recuperação, se minar a confiança dos empresários e das famílias, disse Trichet na quinta-feira. Seu comentário foi uma reação a declarações da ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, favorável a um afrouxamento dos critérios de estabilidade financeira para os países da zona do euro, fixados pelo Tratado de Maastricht. Bernanke e Trichet estão certos. Embora a reativação da economia seja a tarefa mais urgente, é preciso pensar desde logo em políticas de estabilização fiscal para os próximos anos. Se isso não for feito, as pressões inflacionárias serão inevitáveis, a gestão da dívida pública será mais custosa e será mais difícil manter um crescimento econômico prolongado. Essa questão é de interesse fundamental também para os países em desenvolvimento.