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A Petrobrás mostra o caminho

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Por Redação
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Começa a dar resultados o esforço para salvar a Petrobrás e tirá-la do atoleiro para onde foi empurrada pelos erros e crimes cometidos na era petista. Suas ações se valorizaram mais de 160% desde o começo do ano e sua nota de risco foi elevada na última semana pela agência de avaliação Moody’s. Além disso, desde janeiro a estatal subiu do 11.º para o 8.º lugar na classificação mundial por valor de mercado. Falta muito para voltar à posição de 2008, quando era a terceira, mas a recuperação claramente começou. Com a mudança de governo, a gestão da empresa voltou a ser profissional e um programa de reabilitação financeira e econômica está em execução. Há muito por fazer, mas a nova administração da maior estatal brasileira mostra o caminho. Com seriedade e empenho, será possível consertar as empresas controladas pelo Tesouro – outras foram também danificadas pelos desmandos – e arrumar as finanças governamentais, depredadas durante muitos anos, e a administração pública.

“A parte mais difícil vem agora”, disse o novo presidente da Petrobrás, Pedro Parente, referindo-se a tarefas como a redução de custos, a diminuição do endividamento e a restauração da capacidade de investir. A empresa continua a mais endividada do setor petroleiro, com dívida líquida equivalente a cerca de cinco vezes a geração de caixa. A meta é chegar em dois anos a 2,5.

O enorme peso desses compromissos indica muito mais que um desarranjo financeiro. A empresa endividou-se enquanto perdia capacidade de geração de caixa e potencial de investimento. Parte do dinheiro fornecido pelos financiadores foi simplesmente muito mal empregada – para usar uma expressão suave. Durante anos, cada dólar ou real acumulado nesse passivo rendeu muito menos do que poderia render, em condições normais. As causas são conhecidas. Grandes investimentos foram mal planejados. Compras foram superfaturadas, numa orgia de corrupção. Recursos foram desperdiçados no esforço para cumprir a regra de origem nacional de bens e serviços. A administração foi engessada pela participação obrigatória da empresa em todos os projetos de exploração do pré-sal.

Por tudo isso, o esforço para reduzir a dívida deverá envolver muito mais que esforços traduzíveis em grandezas contábeis. O desafio central é passar a limpo todo o estilo de administração – e isso dependerá, de forma decisiva, da participação do Executivo federal. O presidente Michel Temer comprometeu-se claramente a respeitar a gestão da Petrobrás com base em critérios empresariais.

Renunciar à interferência nos preços, como tem renunciado até agora, será apenas uma das mudanças importantes. Durante anos, o Palácio do Planalto interveio, por interesses políticos pessoais e partidários, na formação da diretoria da empresa, na nomeação de conselheiros, na definição de objetivos e, naturalmente, na orientação dos investimentos. A Petrobrás foi integralmente submetida aos fins dos principais líderes petistas e, como consequência, às condições de suas alianças políticas nacionais e internacionais. A construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi um evidente desdobramento da aproximação entre os governos brasileiro e venezuelano.

A recuperação da empresa será trabalhosa e envolverá custos enormes – como os acordos já consumados com investidores para o encerramento de quatro ações na Justiça americana. Outros processos continuam e é difícil estimar seus efeitos. Além de arrasar econômica e financeiramente a estatal, a gestão petista comprometeu sua reputação e a expôs a vários processos judiciais no exterior.

O projeto de lei para desobrigar a empresa de participar de todos os projetos de exploração do pré-sal, preservando seu direito de escolha, também é um avanço importante. Facilitará a restauração de critérios empresariais e, portanto, de padrões de eficiência na administração da Petrobrás. Esse retorno à seriedade e à racionalidade representa mais que a salvação de uma grande empresa. Tem um valor simbólico: aponta um caminho para a recuperação do País.