11 de setembro de 2015 | 03h00
A respeito da decisão da S&P, que muito provavelmente será seguida pelas demais agências de classificação de risco, Dilma tentou demonstrar que, para o País, não faz nenhuma diferença ter ou não ter o grau de investimento. Ela explicou que, entre 1994 e 2015, o Brasil só teve esse grau durante sete anos, a partir de 2008, e portanto a classificação negativa “não significa que o Brasil esteja em uma situação em que não possa cumprir as suas obrigações”. Negando toda a fragilidade constatada pela S&P e o fato de que a perda do grau de investimento acarretará dificuldades ainda maiores para reequilibrar as contas públicas, Dilma garantiu: “Vamos continuar nesse caminho”.
O “caminho” a que ela aludiu é o de fazer cortes superficiais nas despesas – pois ela não tem coragem nem capital político para realizar os cortes realmente necessários – e pisar no acelerador da arrecadação, algo que, em meio a uma economia em plena marcha à ré, só será possível com uma brutal elevação de impostos. Ou seja, no fim do caminho espera-nos um abismo.
Dilma deu uma pista do tamanho da conta a ser jogada no colo dos contribuintes ao informar que seu governo mantém a meta de obter um superávit fiscal de 0,7% do PIB em 2016 – uma ficção na qual nem mesmo a ingênua Poliana, se presidente fosse, conseguiria acreditar. “Nós temos hoje um déficit de 0,5%. Assim sendo, é preciso tomar medidas de gestão de contenção da despesa. Mas é sobretudo das (despesas) obrigatórias. Mantidos os compromissos que assumimos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e olhando as demais, você não tem margem para cumprir 0,7%. Então, inequivocamente, teremos de ter ampliação da receita”, explicou Dilma. E, para ninguém ficar em dúvida, ela deixou claro que, na sua visão, a obrigação de cobrir o rombo criado por sua desastrosa gestão é do conjunto dos brasileiros: “(A conta) não fecha sem aumento de receitas, a não ser que o pessoal queira ficar com o 0,5% do PIB de déficit”. O “pessoal” a que ela se refere são os contribuintes e o Congresso.
Quando questionada se o governo não deveria se esforçar um pouco mais antes de aumentar os impostos, Dilma disse que ainda pretende fazer cortes, “enxugar mais um pouco”. Confrontada com o fato de que, ao contrário, a despesa apresentada pelo governo para 2016 crescerá em termos reais, Dilma limitou-se a dizer: “Vamos olhar tudo direitinho”.
Diante da insistência da entrevistadora, que lhe lembrou que a despesa pública cresce acima do PIB há tempos e, portanto, há muito ainda o que cortar, a presidente disse que há diversas variáveis que influenciam o equilíbrio fiscal e, para tranquilizar os brasileiros, disse: “Para cada uma dessas variáveis, vamos olhar como é que fica”. Mais bem explicado, impossível.
Esses são os planos da presidente para enfrentar a maior crise econômica dos últimos tempos. Não surpreende que as agências de classificação de risco duvidem da capacidade da administração petista de reverter o quadro no curto prazo. Enquanto essas agências são obrigadas por seus clientes a fazer avaliações realistas sobre a economia brasileira, Dilma continua fiel à visão lulopetista de que basta “vontade política” para que o País supere o que ela definiu, singelamente, como um “problema momentâneo”. Graças a esse estado de negação, a S&P já avisou que são grandes as possibilidades de rebaixar a nota do Brasil ainda mais.
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