17 de julho de 2013 | 02h11
A preocupação de Alckmin com a inclusão social nas universidades públicas paulistas é mais política do que pedagógica. Ele pretende disputar a reeleição em 2014 e precisa de uma bandeira eleitoral para a área da educação superior. Por sua vez, desde que assumiu o governo federal, em 2003, o PT investe na criação de institutos técnicos e na expansão das universidades federais em São Paulo, especialmente na região metropolitana. Na gestão do PT, o governo federal também implementou o sistema de cotas, enquanto em São Paulo os governos do PSDB optaram por programas que concedem pontos a vestibulandos oriundos da rede pública.
O Pimesp é o mais ambicioso desses programas. Ele prevê que 35% das vagas das universidades estaduais devem ser preenchidas em 2014 por alunos de escolas públicas. Esse porcentual deve chegar a 50%, em 2016, respeitando ainda a proporção de 35% de pretos, pardos e indígenas entre os beneficiados. Uma das diferenças desse sistema em relação ao adotado pelas universidades federais é que o Pimesp não estabelece critérios específicos de renda.
O ponto mais polêmico do Pimesp é a criação de um curso comunitário semipresencial para cotistas, a cargo da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Pelas estimativas do Pimesp, esse curso terá cerca de 2 mil alunos, mas as autoridades educacionais não deixam claro como serão escolhidos nem se esse número é suficiente para atender à demanda da rede pública estadual de ensino médio, que tem 6 mil escolas. Esse curso foi inspirado nos colleges americanos e tem uma etapa em que os estudantes terão de comparecer às salas de aula e outra em que terão aulas virtuais transmitidas pela Fundação Padre Anchieta. Ao fim do 1.º ano, os alunos com aproveitamento superior a 70% têm garantidas vagas nas faculdades de tecnologia. E, no final do 2.º ano, os alunos com aproveitamento superior a 70% têm garantidas vagas na USP, Unicamp e Unesp.
Independentemente do Pimesp, a USP aprovou um bônus de 5% no vestibular para candidatos de escolas públicas que se declararem pretos, pardos ou indígenas. Até agora, a instituição não concedia esse benefício. A USP também decidiu aumentar o bônus para os demais vestibulandos oriundos da rede pública. Hoje, 28,5% dos calouros da USP vieram de colégios estaduais. Para aumentar esse porcentual, o bônus, que antes podia chegar a 15%, agora será de até 20%. Desse modo, um estudante que se declarar preto, pardo ou indígena poderá ter um acréscimo de até 25% em sua nota nos vestibulares da Fuvest.
Além disso, a USP anunciou que não cumprirá as metas previstas pelo Pimesp para 2016, adiando-as para 2018. As mudanças foram criticadas por entidades estudantis e movimentos sociais, que resistem ao Pimesp e à política de bônus da USP e defendem um sistema de cotas. Também criticaram a Reitoria por não ter apresentado estudos fundamentando as mudanças na política de bônus para o vestibular de 2014. "Estão brincando com fogo, nesse clima em que o País está ", diz o presidente da ONG Educafro, frei David dos Santos.
Com a resistência de unidades da USP ao Pimesp, fica mais atual do que nunca a advertência feita por vários educadores: a adoção de um modelo de inclusão social no ensino superior é um processo complexo, que tem de ser conduzido com rigorosos critérios pedagógicos e não com o olho no calendário eleitoral.
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