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A previsão das enchentes

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Por Redação
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A implantação do Sistema de Previsão e Alerta de Enchentes, anunciada pelo governo de São Paulo e que deverá funcionar já no próximo verão, é uma medida importante para tentar minorar os efeitos das inundações na região metropolitana, enquanto grandes obras, como os piscinões e a reforma e ampliação da rede de galerias pluviais da capital, que demandam tempo, não ficam prontas.O Sistema permitirá que se preveja com duas horas de antecedência o transbordamento de rios e córregos e se avalie com maior precisão do que atualmente os riscos de deslizamentos. Este é um ganho de tempo precioso, que dará à Defesa Civil melhores condições para tomar as medidas que se impõem nessas situações, como alertar as pessoas que moram em áreas de riscos, como encostas e várzeas - e quando possível retirá-las desses locais -, e disciplinar o trânsito, chamando a atenção dos motoristas para as áreas potencialmente mais expostas a inundações. Para chegar a esse resultado, o Sistema disporá de dados colhidos por 200 estações espalhadas pelo Estado. Segundo a secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, "cada piscinão, córrego ou rio terá uma estação instalada em ponto estratégico". Os dados serão atualizados a cada dez minutos e enviados para uma central, onde serão triados e analisados. Técnicos da Sabesp e agentes da Defesa Civil se reunirão em salas de situação, onde terão à disposição essas informações, que combinam dados meteorológicos e hidrológicos, que permitirão acompanhar o nível de rios, córregos e piscinões.Numa primeira fase, esse aparato será utilizado nas Bacias do Rio Tietê, na região metropolitana, e do Rio Piracicaba, para atender 197 municípios, onde vivem 30 milhões de pessoas, o que representa 75% da população do Estado.Este é um daqueles casos em que a única ressalva que se impõe está na pergunta: por que, afinal, uma medida tão simples e relativamente barata, cujos benefícios são importantes e evidentes, não foi adotada antes? A maior parte dos equipamentos de previsão meteorológica e avaliação da velocidade de subida de rios e córregos em consequência de fortes chuvas que comporão o sistema já está operando. O problema é que os dados coletados não são tratados de forma a fornecer todas as informações necessárias para a previsão das enchentes, com o máximo possível de antecedência.Para completar os equipamentos e desenvolver um modelo matemático - com a ajuda de professores da Escola Politécnica da USP - que permita calcular com antecedência o transbordamento de rios e córregos foram gastos R$ 2 milhões. Um segundo passo, que vai melhorar consideravelmente o sistema, é a compra de um radar meteorológico, de R$ 8 milhões, anunciada na mesma ocasião pelo governador Alberto Goldman, para substituir o que está em uso, fabricado há mais de 20 anos e considerado ultrapassado. Ele fornecerá informações mais precisas e detalhadas sobre a intensidade e localização das chuvas e deverá funcionar no próximo ano. Um gasto total de R$ 10 milhões é quase irrisório, se forem considerados os benefícios que o Sistema de Previsão e Alerta de Enchentes poderá trazer.Os números mais recentes, referentes às chuvas do último verão, expõem a gravidade do problema das enchentes em São Paulo, especialmente na capital. De acordo com balanço da Defesa Civil, elas deixaram um saldo de 78 mortos no Estado, dos quais 18 na capital. E 12 mil pessoas ficaram desabrigadas. Sem falar nos prejuízos materiais, difíceis de calcular, mas que certamente não são pequenos, para a população em geral, principalmente para os que tiveram seus imóveis alagados, e para as empresas.Por isso, paralelamente a esse Sistema de Previsão, é imperioso continuar investindo cada vez mais nas obras que trarão resultados mais importantes e duradouros, a médio e a longo prazos, como a ampliação da rede de piscinões, que está atrasada e depende de esforço conjunto do governo do Estado e das prefeituras da região metropolitana.