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A recuperação continua

Esse foi o segundo balanço trimestral positivo, depois de oito no vermelho

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Por Redação
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O Brasil continua em recuperação, lenta, mas persistente, com o consumo em alta, o comércio exterior saudável, a agropecuária firme e alguns segmentos industriais ganhando vigor. O risco de uma recaída na recessão parece ter ficado para trás, mas é bom continuar de olho na principal fonte de problemas da economia brasileira, a Praça dos Três Poderes. Além de prejudicar a reativação, más decisões políticas podem travar a criação de postos de trabalho já observada em alguns tipos de empresas e comprometer a redução do desemprego. Embora modesto, o balanço econômico do segundo trimestre contém alguns números estimulantes. O Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi 0,2% maior que o de janeiro a março, um resultado melhor que o estimado, até há poucos dias, por vários especialistas. Esse foi o segundo balanço trimestral positivo, depois de oito no vermelho.

A confirmação da retomada talvez fique mais clara, no entanto, com outro dado. O valor produzido no período de abril a junho foi 0,3% superior ao dos três meses correspondentes do ano passado. Por 12 trimestres consecutivos essa comparação havia apontado um desempenho pior que o do ano anterior. Começa, portanto, a recuperação do espaço perdido, embora o valor acumulado em quatro trimestres ainda tenha sido 1,4% inferior ao período antecedente. O caminho de volta é longo e será percorrido tanto mais rapidamente quanto maior for a confiança de empresários e consumidores na evolução dos negócios e da oferta de vagas.

Não basta, no entanto, repor o País nos trilhos e garantir o primeiro impulso. Falta criar condições para o País avançar mais velozmente e com segurança. Para retomar um ritmo de 3% ao ano, ou pouco mais, será preciso aumentar o investimento em infraestrutura e em meios de produção empresariais. Mais equipamentos, máquinas, estradas e outros tipos de obras serão necessários para aumentar o potencial produtivo e de crescimento.

No segundo trimestre, esses investimentos, também denominados formação bruta de capital, corresponderam a 15,8% do PIB, a menor taxa desde o segundo trimestre de 2013, quando chegou a 21,1%. Taxas de investimento iguais ou superiores a 25% do PIB são encontradas em economias emergentes mais dinâmicas. Não basta, no entanto, aumentar o valor investido. É preciso usar com mais eficiência e mais controle cada real aplicado, especialmente nos projetos públicos, prejudicados, durante anos, por mau planejamento, ineficiência e corrupção.

Elevada capacidade ociosa ainda inibe uma efetiva retomada do investimento no setor empresarial. O governo poderia ser o motor de arranque, mobilizando capitais para obras de infraestrutura, mas ainda levará algum tempo para implementar seu programa de concessões e privatizações.

O consumo das famílias, com aumento de 1,4% sobre o trimestre anterior e de 0,7% sobre o período abril-junho de 2016, tem funcionado como principal motor. Com inflação em queda, o orçamento familiar tem sido menos erodido que nos anos anteriores. A evolução mais favorável dos preços tem facilitado o retorno às compras. Além disso, a liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) deu um fôlego extra aos consumidores, embora parte do dinheiro tenha sido usada para a liquidação de dívidas.

O desemprego muito alto continua sendo um entrave à normalização dos gastos, mas também na criação de vagas tem havido alguma recuperação. No trimestre móvel encerrado em julho a desocupação ficou em 12,8%. Estava em 13,6% nos três meses terminados em abril. Com isso, os desempregados diminuíram 5,1%, de 14 milhões para 13,3 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo IBGE.

Consumo e exportações têm dado algum vigor à indústria de transformação, refletido no avanço de 0,1% sobre o primeiro trimestre. O resultado foi 1% inferior ao de um ano antes, mas a tendência de melhora parece clara – um dado especialmente positivo, pela importância da indústria de transformação como centro irradiador de mudança e de criação de empregos de qualidade.