Imagem ex-librisOpinião do Estadão

A recuperação do Japão

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Fortemente afetado pelo terremoto e pelo tsunami que devastaram cidades inteiras da região nordeste do país, provocaram um desastre nuclear sem precedentes e paralisaram importantes segmentos da indústria, o desempenho da economia japonesa, a terceira maior do mundo, ameaçava a recuperação ainda tímida dos países industrializados, o que acabaria por prejudicar também as economias em desenvolvimento, entre as quais a brasileira. No entanto, passados quatro meses dos desastres naturais que abalaram a confiança dos japoneses na capacidade econômica de seu país e na capacidade política de seus governantes, o Japão dá sinais claros de que sua recuperação pode ser bem mais rápida do que se previa, e, desse modo, tornar-se um propulsor da economia mundial.Na semana passada, após se reunir em Brasília com seu colega brasileiro Antonio Patriota, o ministro das Relações Exteriores do Japão, Takeaki Matsumoto, disse que "a recuperação da economia japonesa será bem mais rápida do que se acreditava e já está em fase acelerada". Na segunda-feira, em seu relatório trimestral sobre o desempenho da economia japonesa, o Banco do Japão informou que, na região de Tohoku, a mais afetada pelos desastres naturais, a recuperação das áreas atingidas está sendo rápida, a infraestrutura já foi restabelecida e as indústrias que tiveram de paralisar suas atividades já se recuperaram e retomaram a produção em ritmo praticamente normal.Os desastres provocaram a suspensão da produção de componentes utilizados nas indústrias automobilística e eletrônica, gerando um efeito dominó. Também a indústria petroleira foi fortemente afetada. A crise de energia, provocada pelo acidente na usina nuclear de Fukushima, também prejudicou a atividade econômica. Houve queda de 15,5% da produção industrial em março, mês em que ocorreram os desastres naturais. No primeiro trimestre de 2011, o PIB japonês foi 3,7% menor do que o do último trimestre de 2010.Mas eram fortes há algum tempo os sinais da rápida retomada da produção mais duramente atingida pelo terremoto e pelo tsunami. Em abril, a indústria produziu 1,6% mais do que em março; e, em maio, 5,7% mais do que em abril. O resultado de maio é o melhor para a indústria japonesa desde março de 1953, quando a reconstrução do país depois da derrota na 2.ª Guerra Mundial atingia seu auge.A retomada da produção das indústrias de equipamentos para transportes, de máquinas e de produtos químicos, as mais afetadas pelos acidentes naturais que assolaram o nordeste do Japão, permitiram que grandes companhias automobilísticas e de produtos eletrônicos de consumo de outras partes do país, que dependem do fornecimento de peças e componentes, também começassem a retomar seu ritmo normal de atividades.De acordo com todas as estimativas, até fins de agosto a indústria japonesa já estará operando nos mesmos níveis de antes do terremoto e, até o fim do ano, deverá apresentar um crescimento razoável em relação à produção de 2010.Depois de ter respondido com serenidade aos problemas que se seguiram ao tsunami e à crise de energia decorrente do acidente em uma grande usina nuclear, o consumidor japonês parece ter mudado seu estilo de vida, reduzindo o consumo de eletricidade. Para muitas empresas, confirmada essa mudança, haverá uma oportunidade de mudança também para elas.Na emergência, o governo e o Congresso agiram com presteza na aprovação de verbas especiais para os trabalhos de remoção dos escombros deixados pelo tsunami, para a recuperação da infraestrutura e para o início da reconstrução das cidades destruídas, de modo a restabelecer rapidamente a normalidade da vida da população e a atividade econômica. Mas persistem as dúvidas sobre a capacidade do governo - deste, chefiado por Naoto Kan, ou de outro que venha a substituí-lo daqui a poucos meses - de mudar consistentemente o panorama econômico observado nas duas últimas décadas, de baixo crescimento e de aumento da dívida pública.