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A reestruturação de Furnas

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Por Redação
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O tamanho dos cortes de pessoal e de despesas de custeio anunciados pelo presidente de Furnas - subsidiária da Eletrobrás -, Flávio Decat, como parte do processo de reestruturação da empresa, para torná-la mais eficiente, dá uma ideia do imenso custo gerado até recentemente pelo uso político descontrolado da estatal. Seu quadro de funcionários será reduzido em 35% (mais de um terço) e seus gastos com materiais, serviços e outros itens serão cortados em até 22% nos próximos cinco anos. E nenhum contribuinte, que até há pouco vinha sustentando financeiramente as sucessivas más gestões de Furnas, tem motivos para duvidar que, mesmo assim - ou talvez por causa disso -, a empresa será mais competitiva e prestará melhores serviços.A descrição que faz de Furnas seu atual presidente, no cargo há cerca de um ano e meio, resume a dramática situação administrativa e financeira a que a empresa foi empurrada por sucessivas diretorias indicadas por critérios político-partidários. "A imagem que se projeta da nossa empresa é algo impressionante", disse Decat, ao anunciar o plano de reestruturação. "É uma árvore de Natal com quase 450 gerentes."Mais do que impressionante, é espantosa a estrutura administrativa de Furnas, quando comparada com a de empresas privadas ou até mesmo outras estatais do setor elétrico. Complexa e balofa, a cadeia de decisão de Furnas é formada por superintendências, às quais se subordinam departamentos, que por sua vez controlam outras unidades. Os que chefiam as áreas na escala inferior da hierarquia, com nível de gerente, chegam a receber salários de até R$ 30 mil, o que gera o organograma na forma de árvore de Natal a que se referiu Decat.Não foi à toa, pois, que, no início do governo Dilma, os dois principais partidos da base governista - PT e PMDB - se envolveram numa disputa marcada por dossiês, ameaças, chantagens pelo controle da empresa, e tão acirrada que parecia uma briga por um butim. Os principais dirigentes dos dois partidos estiveram direta ou indiretamente envolvidos na briga, que implicou o afastamento temporário da base governista de um grupo de deputados fluminenses peemedebistas liderados por Eduardo Cunha e também do líder do partido na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).A escolha de Flávio Decat pela presidente Dilma Rousseff, com o apoio de outras lideranças do PMDB, encerrou a disputa. Na sua posse, Decat garantiu que passaria um "pente-fino" nas instalações de Furnas, para evitar que ela fosse novamente responsabilizada por apagões, como foi em 2009, e que dirigiria a empresa "com a transparência mais absoluta possível".A reestruturação agora anunciada - que tem o apoio financeiro, a fundo perdido, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e será executada por uma empresa de consultoria multinacional que venceu o processo de licitação - indica que, no plano administrativo, Furnas começa a mudar.Há muito o que fazer. Responsável por 9% da energia elétrica gerada no País e por um complexo que inclui 15 usinas hidrelétricas, 2 termoelétricas e cerca de 20 mil quilômetros de linhas de transmissão, Furnas tem hoje 6.401 empregados; com a reestruturação, em 2018, terá 4.174.A notória ingerência política nos últimos anos tornou mais grave um problema histórico da empresa. Como lembrou Decat, Furnas "tem a mesma estrutura e a mesma forma de trabalhar desde que nasceu há 55 anos". Ela precisa mudar sua cultura, pois não estava e ainda não está preparada "para um modelo (para o setor elétrico) que se instalou há muitos anos". É um modelo que exige eficiência, para concorrer com outras empresas. As mudanças anunciadas pela presidente Dilma Rousseff para o setor elétrico, que levarão à redução das tarifas, tornaram mais urgente a reestruturação de Furnas, pois exigirão empresas que operem a custos compatíveis com as novas regras.São mudanças tardias, mas bem-vindas. Outras estatais do setor elétrico carecem de reestruturação, a começar pela Eletrobrás, que precisa reduzir custos sem reduzir investimentos, como observou seu presidente, José da Costa Carvalho Netto.