02 de setembro de 2015 | 03h00
Passando ao largo de maiores considerações a respeito das razões por detrás da crise política, econômica, social e moral que o País enfrenta e se reflete, também, nesse lamentável episódio do orçamento deficitário, basta dizer que tudo isso é o resultado da conjugação de sectarismo ideológico com incompetência gerencial. Do estatismo populista com o aparelhamento partidário do governo.
Principalmente quando a ideia é “passar o País a limpo”, como continua cinicamente pregando o lulopetismo, o desafio de governar exige duas qualidades fundamentais do governante: coragem e habilidade política. Coragem não falta a Dilma Rousseff. Ela o demonstrou na juventude, quando colocou a própria vida em risco na luta armada para substituir um regime autocrático de direita por um regime autocrático de esquerda. A habilidade política da presidente da República, no entanto, é zero. Ela parece acreditar ainda hoje que essa coisa de “habilidade política” não é mais do que uma desprezível enganação “burguesa” a serviço da exploração do povo. A presidente é a voz do povo e isso basta. O resto é “terceiro turno”.
Por força da convivência com o poder, Dilma certamente percebeu que não poderia deixar de conversar e até mesmo de delegar responsabilidades. Mas como ela tem absoluta certeza do que o País precisa, só ouve seu marqueteiro eleitoral. Delegação de poderes, por sua vez, não combina com sua natureza autoritária, e qualquer coisa parecida com isso jamais passou de simples coincidência. O que explica o relacionamento dela com Joaquim Levy e Michel Temer, para citar os exemplos mais notórios que nos remetem, também, ao lamentável episódio do orçamento deficitário.
Diante da necessidade – mas não totalmente convencida disso – de colocar as contas do governo em ordem, depois da gastança desenfreada do ano eleitoral, Dilma contrariou sua natureza e suas convicções e foi atrás de alguém habilitado para a missão, um economista “liberal”, alto executivo do Bradesco, e a ele “delegou” o comando da equipe encarregada do reajuste fiscal. É óbvio que só o fez para causar boa impressão aos agentes econômicos no País e lá fora. A maior “vitória” de Joaquim Levy até o momento é permanecer no cargo. Calejou-se de tanto bater cabeça com o núcleo duro da assessoria presidencial e perder a parada. A série de derrotas culminou com a do Orçamento, mas isso não o abalou da posição ministerial.
Com Michel Temer deu-se quase o mesmo, com a diferença de que, neste caso, Dilma estava lidando com um político experiente. E lá foi o vice-presidente da República, com os poderes “delegados” pela presidente que fingia apoiá-lo, realizar o que os petistas não sabem e não gostam de fazer: recompor alianças. Mas é claro que como a tal delegação não era para valer, Temer foi sabotado por todos os lados. Afastou-se educadamente e acabou faltando ao governo, consequentemente, apoio e sabedoria política para apresentar uma peça orçamentária decente.
Esse fiasco tem muitos pais, mas a maior responsável por ele é a presidente Dilma, que se recusou a aceitar cortes que equilibrariam o orçamento e não tem apoio político, e muito menos popular, para sair da crise.
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