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A restrição aos ônibus fretados

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Por Redação
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Ao contrário de outras medidas que a atual administração municipal vem adotando para dar maior fluidez ao trânsito da capital - como as restrições aos caminhões pesados, por exemplo -, a proibição de circulação que acaba de impor aos ônibus fretados, com poucas exceções, não foi devidamente fundamentada, deixando no ar importantes perguntas. No que se refere aos caminhões - que, salvo casos excepcionais, têm de realizar suas operações de carga e descarga entre as 5 e as 21 horas, de segunda a sexta-feira, na área de 100 quilômetros quadrados do centro expandido -, a Prefeitura, além das evidências dos danos ao trânsito causados pela sua quase total liberdade de circulação, dispunha de outros dados objetivos para embasar sua decisão. Os ônibus fretados não poderão mais circular, a partir de 27 de julho, numa área de 70 quilômetros quadrados ao redor da Praça da Sé, chamada Zona Máxima de Restrição a Fretados (ZMRF), entre as 5 e as 21 horas. Nela estão algumas das vias com altos índices de congestionamento, como as Avenidas Ibirapuera, 9 de Julho, Luís Carlos Berrini e Paulista. Ficaram de fora áreas da região central que concentram comércio popular, como o Brás e a Rua 25 de Março. E, entre as exceções, estão os fretados utilizados para transporte escolar e turismo. No limite da ZMRF, serão criados 13 bolsões de embarque e desembarque - 12 perto de estações do Metrô e da CPTM e 1 do Expresso Tiradentes - para os passageiros dos fretados, que, em sua grande maioria, segundo se estima, são moradores de bairros distantes de seus locais de trabalho e de cidades da Grande São Paulo. As conexões entre os pontos dos fretados e outras regiões serão feitas por 7 linhas com 65 ônibus já existentes e que serão "otimizadas". Segundo o secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes, "dos 110 mil usuários de fretados, 48 mil vão descer nos bolsões e entrar no sistema metropolitano de transportes". Numa questão dessa importância, não basta fazer afirmações taxativas como essa. É preciso esclarecer em que elas se baseiam. Onde estão os estudos técnicos dos quais se supõe que o secretário Moraes tirou essas informações? Se eles existem, por que não divulgá-los para dar sustentação e credibilidade à decisão? O prefeito Gilberto Kassab vai na mesma linha de Moraes e sustenta que, "para um sistema (de transporte) com 6 milhões de pessoas, ter 50 mil a mais não será uma grande diferença". Os milhões de passageiros que se espremem diariamente nos ônibus, trens da CPTM e do Metrô, quase todos operando superlotados, não devem ter motivos para concordar com Kassab. Logo, é sua obrigação dizer como chegou a essa conclusão. Em que estudos ele se louvou para dizer o que disse? A população tem o direito de esperar que o prefeito e seu secretário lhe forneçam essas informações. Principalmente porque, se por acaso - o que preferimos acreditar que não ocorrerá - aquelas afirmações não tiverem a exatidão que eles sugerem, as restrições aos ônibus fretados podem produzir efeito contrário ao esperado, que é o de desafogar o trânsito na ZMFR, da qual a Prefeitura espera retirar 1.300 ônibus. Em vez disso, se parte considerável dos passageiros dos fretados optar por usar seus carros em vez dos ônibus, Metrô ou trens da CPTM, o trânsito certamente piorará, em vez de melhorar. É o que sustenta o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento e para Turismo (Transfretur). Ele afirma ter pesquisa segundo a qual 87% dos passageiros dos fretados pertencem às classes A e B, e 75% deles possuem automóvel. Como se estima que para eles - além de maior tempo de viagem e menor conforto em outros meios de transporte coletivo - o custo do deslocamento pode aumentar em até 46%, porque terão de tomar mais uma condução nos bolsões, não faltarão razões para optar pelo automóvel. O trânsito pode perder 1.300 ônibus e ganhar dezenas de milhares de automóveis. Mas o Transfretur também não divulgou seus estudos, o que deveria fazer porque, como é parte diretamente interessada, tem de provar o que diz. Se nenhuma das partes divulgar os estudos que devem dar suporte a suas afirmações, a população não terá como evitar a conclusão de que um assunto de tal importância não vem sendo tratado com o rigor necessário.