04 de setembro de 2012 | 03h10
Enfraquecida depois do fracasso da Rodada Doha - cujo objetivo era reduzir as barreiras comerciais em todo o mundo e estimular a livre circulação de mercadorias e serviços entre os países-membros -, e criticada pelos movimentos sociais que, estimulados pela crise mundial, atacam com intensidade crescente a globalização e as principais organizações econômicas internacionais, a OMC reforça sua representatividade e importância com a adesão da 9.ª economia mundial, que se tornou seu 156.º membro oficial.
Ela continua a desempenhar papel vital para assegurar o crescimento do comércio mundial. A adesão da Rússia "reforçará, sem dúvida nenhuma, o sistema de comércio multilateral", declarou o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.
A entrada da Rússia na OMC encerra um período de nada menos de 19 anos desde que o país solicitou seu ingresso na organização, pouco tempo depois da desintegração da antiga União Soviética. A persistência do governo russo demonstra seu reconhecimento da importância da filiação à OMC, mesmo que ela implique o compromisso de assumir plenamente obrigações que valem para todos os países-membros e que, até agora, nem sempre foram respeitadas por Moscou.
"A adesão deve garantir (à Rússia) a estabilidade do comércio exterior, a redução das barreiras alfandegárias e administrativas, além da possibilidade de participar na elaboração das regras de cooperação internacional", disse o principal negociador da entrada do país na OMC, Maxim Medvedkov.
Um dos principais efeitos esperados pelo governo de Moscou é o aumento da competitividade da economia russa e a redução de sua dependência das vendas externas de petróleo e gás, os dois principais produtos de sua pauta de exportações. Estas podem ser, de fato, as consequências mais positivas da entrada da Rússia na OMC.
Como primeiro resultado da adesão à OMC, as tarifas médias de importação para 700 produtos devem cair de cerca de 12% para menos de 8%. A concorrência forçará os produtores locais a buscar mais eficiência para oferecer produtos que possam concorrer com os importados. É muito provável que, se não passarem por um choque de competitividade, alguns segmentos da indústria, como a automobilística, enfrentarão sérias dificuldades.
A contrapartida esperada pelo governo russo é a facilidade de acesso a novos mercados, o que poderá resultar na diversificação de suas exportações, com o aumento da participação dos produtos industrializados. O Banco Mundial calculou que, com sua plena integração ao comércio mundial, a Rússia pode ganhar de US$ 53 bilhões a US$ 177 bilhões por ano.
São muitos, no entanto, os obstáculos que o país precisa superar. Lá persiste um capitalismo de compadrio, com grupos econômicos protegidos pelo Estado, o que desestimula a busca de competitividade. Práticas econômicas precisam mudar e instituições mais confiáveis precisam ser construídas. No plano externo, o momento é desfavorável, por causa da persistência da crise e da tendência de aumento do protecionismo em todo o mundo.
Mas a entrada da Rússia na OMC é, certamente, positiva para os países com os quais ela mantém relações comerciais - como o Brasil, que, no ano passado, exportou US$ 4,2 bilhões para o mercado russo - e para o comércio mundial, pois haverá mais garantias de observância das regras internacionais.
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