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A semana jogou um pouco de água fria no otimismo

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Por Redação
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Apesar de a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic não ter constituído surpresa para ninguém no mercado, conforme já comentamos aqui na última sexta-feira, 30, o fato é que, no dia seguinte, pessoas físicas e empresas já denotavam aumento das taxas de juros nos empréstimos solicitados.Isso a despeito da reiterada afirmação das autoridades monetárias de que o reflexo das alterações da Selic no mercado financeiro (e na economia em geral) se dá em prazos que podem variar de seis a nove meses.Alguns fatores podem ter contribuído para antecipar a reação das instituições financeiras, no sentido de aumentarem suas taxas, na esteira da decisão do Copom. Um deles é que a própria sensação de segurança conquistada com o longo período de estabilidade da Selic teria levado ao raciocínio de que, se houve "virada", é porque as autoridades descobriram problemas que o mercado ainda desconhece. Um outro é que isso indicaria, afinal, que começou uma escalada cujos degraus podem ser maiores do que as autoridades gostariam de admitir.Em conjunto com essa última avaliação, deve ter entrado, sem dúvida, a suspeita de que a tendência de alta da inflação - que, apesar das declarações tranquilizadoras do governo, está se mostrando algo ominosa - pode ganhar maior ímpeto nos próximos meses. E como já várias vezes o BC tem ressaltado, sua principal função é prever com antecipação suficiente os movimentos da inflação e, nos últimos três meses, ela tem exibido movimentação que justifica uma ação preventiva mais intensa.Ainda é cedo para julgar, mas temos de admitir que a queda de 1% no Índice de Confiança da Indústria em abril, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas na sexta-feira, retratando uma diminuição do otimismo dos empresários industriais de todos os setores, com exceção do de materiais de construção, é outro dos efeitos que se poderiam esperar, não exatamente da decisão de quarta-feira do Copom, mas da "nuvem" - como se diria em informática - de informações desfavoráveis que precederam e cercaram uma decisão que, indiretamente, as confirma.Para completar, em nada contribuíram para aliviar as expectativas os dados das contas fiscais - do mês de março, ainda, mas só agora divulgados - de aumento substancial do déficit nominal e do pagamento de juros nominais, que registraram um déficit primário de R$ 216 milhões que há muito tempo não ocorria no histórico desse levantamento.