Imagem ex-librisOpinião do Estadão

A seriedade baixa custos

Custo do capital de giro no segundo trimestre foi 7,5% menor que no primeiro e 19,5% mais baixo que no período de abril a junho de 2016, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Juros em queda já proporcionam crédito mais barato às empresas, diminuindo seus custos e aumentando seu poder de competição. O custo do capital de giro no segundo trimestre foi 7,5% menor que no primeiro e 19,5% mais baixo que no período de abril a junho de 2016, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). “As sucessivas reduções na taxa básica de juros pelo Banco Central (BC) vêm sendo repassadas às empresas”, segundo relatório divulgado ontem. O documento publicado pela confederação confirma o barateamento do crédito, embora os juros de mercado permaneçam, como tem sido há muito tempo normal no Brasil, bem superiores à taxa básica determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), o órgão formulador da estratégia do BC.

O barateamento do capital de giro é uma das boas novidades apresentadas no Indicador de Custos Industriais, publicado periodicamente pela CNI. Os custos aumentaram 0,8% do primeiro para o segundo trimestre, descontados fatores sazonais, de acordo com o levantamento.

Entre janeiro e março esses custos haviam ficado praticamente estáveis em relação ao nível dos três meses finais de 2016, com alta de apenas 0,1%. Também nessa pesquisa já se notou o efeito benigno da redução de juros iniciada no fim de outubro pelo Copom. Além do custo do capital, os pesquisadores levam em conta, na sondagem, os gastos com pessoal, com bens intermediários nacionais e estrangeiros, com energia e com tributos.

No segundo trimestre os bens intermediários importados ficaram 5,8% mais caros que no primeiro, as despesas com pessoal subiram 2,4% e o custo dos tributos aumentou 3,5%. Esses aumentos foram na maior parte contrabalançados pela redução de 7,5% no custo do capital de giro, de 0,98% nos preços dos bens intermediários nacionais e de 1,1% na conta de energia. A elevação de 0,8% no custo de produção total é explicável principalmente pelos 3,5% de alta das obrigações tributárias. O relatório ressalta como fator explicativo o peso da tributação no conjunto dos custos.

O custo de produção, formado pelos gastos com pessoal, com bens intermediários e com energia, subiu 0,5% do primeiro para o segundo trimestre. O poder de competição da indústria depende também de outros itens. O exame do cenário do segundo trimestre evidencia a importância dos custos do crédito e dos tributos na formação do conjunto.

O crédito foi um componente favorável, no período coberto pela pesquisa, por causa da redução de juros, mas o peso dos impostos e contribuições piora consideravelmente a posição dos industriais brasileiros. Uma pesquisa mais ampla sobre competitividade levaria em conta outros fatores, como a eficiência do sistema de transportes, a complexidade do sistema tributário e os entraves associados à complexidade da burocracia oficial.

A redução dos juros tem produzido outros efeitos benéficos, nem sempre perceptíveis sem a mediação de pesquisas. Exemplo: entre janeiro e setembro houve 1.087 requerimentos de recuperação judicial, de acordo com a Serasa Experian. Esse número é 26,5% menor que o anotado em 2016 no período correspondente. No mesmo tipo de comparação, as solicitações de falências, neste ano, ficaram em 1.329, soma 5,4% inferior à de um ano antes. Técnicos da Serasa atribuem a mudança de cenário à retomada do crescimento econômico e à série de cortes dos juros.

A redução da taxa básica de juros – de 14,25% para 8,25%, até agora – foi possível porque a inflação recuou consideravelmente. O Copom só começou a afrouxar sua política, nos meses finais de 2016, quando houve segurança quanto à contenção dos preços e confiança em relação ao prosseguimento do ajuste das contas públicas. Custos industriais mais competitivos foram possibilitados, portanto, por um trabalho duro e sério de combate à inflação pelo Copom, pelo início de conserto das contas públicas e pela consequente redução dos juros. Seriedade, em suma, favorece o poder de competição e o crescimento econômico.