Imagem ex-librisOpinião do Estadão

A sombra da recessão

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

Mais um dado confirma o péssimo desempenho da economia brasileira no ano passado e reforça a avaliação de um crescimento muito próximo de zero - ou mesmo de um resultado negativo - como gran finale de uma sinfonia de erros. Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,12% em 2014, último ano do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Esse número é da série isenta de efeitos sazonais. Pelo mesmo critério, o nível de atividade baixou 0,55% de novembro para dezembro, depois de um mês de estabilidade.Todos os sinais, por enquanto, são de um início de ano em ambiente recessivo, um ponto de partida muito ruim para uma política de arrocho nas finanças públicas. O arrocho monetário já havia começado e será preciso mantê-lo, se se quiser derrubar uma inflação hoje em torno de 7% ao ano, muito distante da meta oficial de 4,5%.Só no fim de março será publicado o quadro geral das contas nacionais. Qualquer taxa de expansão mais próxima de 1% que de zero será uma surpresa até nos gabinetes mais otimistas de Brasília. Em 2013, o PIB cresceu 2,5%, a segunda maior variação dos últimos quatro anos. Em 2011, o crescimento havia chegado a 2,7%. Em 2012, ficou em 1% e a taxa do ano passado deve ter sido menor, pelo menos segundo as indicações conhecidas até agora.O primeiro trimestre foi de recessão, com dois trimestres consecutivos de produção em queda. O PIB encolheu 0,2% no primeiro e 0,6% no segundo, de acordo com os dados do IBGE. Do segundo para o terceiro trimestre a economia cresceu 0,1%, quase nada, portanto, mas o suficiente para se declarar findo, em termos oficiais, o período de retração. O IBC-Br aponta nova queda nos três meses finais do ano e um resultado negativo acumulado em 2014.O Banco Central já havia antecipado uma avaliação sombria ao publicar, no fim de janeiro, o balanço fiscal do ano passado. Pela estimativa incluída no relatório, o PIB em valores correntes chegou a R$ 5,134 trilhões em 2014. Esse número é apenas 5,97% maior que o calculado para o ano anterior. Descontada a inflação média de 2014, a variação real deve ter sido negativa. Isso é compatível com o novo quadro do IBC-Br.Além disso, as informações parciais disponíveis até agora indicam um balanço ruim para todo o ano, provavelmente com redução do PIB. A produção industrial diminuiu 3,2%, segundo o IBGE, e as vendas do varejo "ampliado", isto é, com inclusão de veículos, componentes e material de construção, foram 1,7% menores que as de 2013. Também o consumo, depois de alguns anos de firme expansão, acabou fraquejando em 2014. O emprego industrial, também de acordo com o IBGE, diminuiu 3,2%. O número de horas pagas na indústria diminuiu 3,9% e a folha de pagamento real do setor encolheu 1,1%. O fim de ano foi especialmente ruim, com emprego 4% inferior ao de dezembro do ano anterior e folha de salários 3,9% menor. Também esses dados parecem combinar com os do IBC-Br.No trimestre final, o desemprego indicado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada em cerca de 3.500 municípios, ficou em 6,5% da força de trabalho, pouco acima do apurado nos últimos três meses do ano anterior, de 6,2%. A média do ano chegou a 6,8%. São números piores que os de várias economias desenvolvidas e emergentes. Além disso, as demissões na indústria comprometeram, como nos dois anos anteriores, a qualidade do emprego. A inflação elevada e resistente, o endividamento das famílias e a alta dos juros acabaram também freando o consumo.Com a inflação correndo na faixa de 7% ao ano e as contas públicas em muito mau estado, o governo dispõe de pouco espaço para estímulos de curto prazo. Será preciso apertar as contas públicas e manter os juros elevados. Além do mais, crescimento mais veloz dependerá de ganhos de produtividade e, portanto, de mais investimentos públicos e privados. Para isso será preciso consertar a gestão pública e recompor a credibilidade da política econômica. Não haverá lugar para complacência nos próximos meses.