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A supreendente decisão do Copom

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Por Redação
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Se o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu ao reduzir a Selic de 1 ponto porcentual, num momento em que o resultado do PIB se mostra melhor do que o previsto, é de perguntar se as autoridades monetárias não teriam descoberto que os bancos tornam dispensável uma política monetária ortodoxa do Banco Central (BC), ao praticar juros tão elevados... A decisão do Copom satisfez ao presidente da República, cuja preocupação maior é manter "crescimento eleitoral". E mais ainda ao ministro da Fazenda, que, com uma taxa básica menor, paga menos juros pela dívida interna e com isso compensa a pressão exercida indiretamente pelo aumento da remuneração dos títulos norte-americanos. Até o BC obtém vantagem com a nova Selic: reduz o custo de constituição de reservas internacionais. O efeito sobre a taxa cambial também pode ser benéfico, na medida em que reduz o incentivo à entrada de dólares no País em operações de arbitragem. Fica uma pergunta no ar: qual será o efeito dessa decisão corajosa do Copom sobre o custo do dinheiro? Portanto, sobre o crescimento da produção e do consumo? Nos últimos meses as instituições financeiras não acompanharam, com suas taxas de juros, a redução da Selic. Pelas primeiras reações dos bancos, vê-se que pretendem fazer um corte muito modesto nas suas taxas e, de preferência, nas operações com pessoas físicas que oferecem mais alta rentabilidade. Com isso se podem esperar dois efeitos: as empresas continuarão muito cautelosas em tomar créditos para investimento com juros muito superiores à rentabilidade que podem esperar das suas operações. E aos financiamentos do BNDES as pequenas empresas não têm acesso. Em contrapartida, as famílias, ao verificarem a redução das taxas (em grande parte insignificante), continuarão se endividando sem aproveitar a oportunidade para formar uma poupança com as taxas de remuneração das cadernetas de poupança. Isso cria o risco de um descasamento entre a demanda doméstica e a produção. Cabe ao Banco Central e ao governo conseguirem maior contribuição dos bancos para a redução do custo do dinheiro. O fato a destacar é que melhorou nossa posição no contexto internacional, no que se refere à comparação entre taxa de juros básica e inflação. Todavia não estamos convencidos de que tal melhora se consolide, quando se tomam por referência as taxas de juros efetivamente praticadas...