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A vez da competência técnica

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Por Redação
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É imensa a tarefa que espera os novos dirigentes da Petrobrás, de instituições financeiras e de institutos de pesquisas do governo aos quais o presidente interino Michel Temer deu posse na quarta-feira passada. O País, como observou Temer, está “mergulhado em uma das grandes crises de sua história” e retirá-lo dessa situação exigirá dos dirigentes competência, dedicação e espírito público.

Eles têm condições de responder ao desafio. Respeitados em seus ambientes profissionais pelos trabalhos que desenvolveram, os novos presidentes da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal (CEF), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) assumem seus cargos sem a sombra que encobriu – e ainda encobre – a idoneidade de parte dos integrantes do Ministério de Michel Temer. Trazem para o serviço público a competência técnica indispensável para o bom desempenho das funções que lhes foram atribuídas.

A despeito das dimensões e do peso na economia nacional de alguns entes que agora estão submetidos a nova gestão – que se espera seja marcada por decisões tecnicamente fundamentadas e não inspiradas em interesse político-partidário, como ocorreu ao longo da administração petista – e dos acertos das medidas que ela venha a tomar, não será possível reduzir “da noite para o dia nossos imensos problemas”, como reconheceu o presidente interino.

Os novos dirigentes terão de buscar dois objetivos. Um deles, óbvio, é contribuir para a criação das condições necessárias para a retomada do crescimento. Outro é restabelecer as condições operacionais dos entes que agora dirigem. Além de ter causado os graves problemas que afetam a economia e exigem soluções duras e de resultados demorados, a administração petista destroçou financeira e administrativamente empresas federais, esgotou a capacidade dos bancos públicos e transformou uma instituição de natureza técnica e apolítica, como o Ipea, em centro de teses políticas e ideológicas que comprometeram sua credibilidade – o IBGE, felizmente, foi pouco afetado.

O caso da Petrobrás é, de longe, o mais grave de todos. Em sua gestão, o presidente recém-empossado, Pedro Parente, terá de buscar a recuperação da capacidade financeira de uma empresa que foi saqueada pelo vasto esquema de corrupção que vem sendo desvendado pela Operação Lava Jato, obrigada a assumir um insustentável plano de investimentos inspirado na megalomania petista de exploração do pré-sal, utilizada por longo tempo como instrumento de contenção da inflação por meio do severo congelamento do preço dos combustíveis e cuja gestão foi criteriosamente partilhada entre os partidos que integravam a base de apoio do governo do PT. A gestão anterior, de Aldemir Bendine, fez parte do trabalho, mas ainda há muito a fazer, a começar pela reestruturação da imensa dívida da empresa. Pelo menos não haverá mais interferência do governo na política de preços da Petrobrás.

Os bancos controlados pelo governo federal, dizem seus novos presidentes – Paulo Caffarelli, no Banco do Brasil; Gilberto Occhi, na CEF; e Maria Sílvia Bastos Marques, no BNDES –, vão trabalhar de maneira integrada e já planejam medidas de estímulo à retomada econômica. É uma iniciativa positiva. Em pelo menos um caso, porém, o do BNDES, será indispensável rever as políticas até agora praticadas. O banco foi largamente empregado pelo PT para apoiar empresas escolhidas pelo governo em nome do crescimento, mas seus programas de financiamento nunca alcançaram esse resultado.

Episódios inesperados ou não desejados – a canhestra sucessão no IBGE e o adiamento, no Senado, da sabatina de Ilan Goldfajn, indicado para a presidência do Banco Central – podem tirar algum brilho da posse, mas não enfraquecem as expectativas favoráveis com que a nova equipe técnica do governo interino de Temer assume suas responsabilidades.