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A visita apostólica à Colômbia

Na última etapa da visita apostólica à Colômbia, em Cartagena, o papa Francisco dedicou um importante espaço de sua agenda para tratar de outra questão crucial para a América Latina: a ditadura venezuelana

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Por Redação
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Na quarta-feira da semana passada, o papa Francisco desembarcou em Bogotá para a primeira visita de um pontífice à Colômbia desde João Paulo II, em 1986. Além da capital, Francisco também passou pelas cidades de Villavicencio, Medellín e Cartagena.

A visita apostólica foi o coroamento do processo de reconciliação nacional por que passa o país após a assinatura do acordo de paz pelo presidente Juan Manuel Santos e por Rodrigo Londoño, o líder do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em novembro de 2016, e o recente armistício firmado entre o governo e o Exército de Libertação Nacional (ELN), outro importante grupo guerrilheiro colombiano que ainda inquietava o país.

O acordo firmado com as Farc, a guerrilha mais antiga da América Latina até então em atividade, pôs fim a uma violenta guerra civil que durou 52 anos e vitimou cerca de 8 milhões de pessoas, entre mortos, feridos, desaparecidos e refugiados. A mediação do Vaticano foi determinante para que o conflito chegasse ao fim.

Francisco foi um dos mais enfáticos apoiadores do “sim” no referendo popular sobre o acordo de cessar-fogo com as Farc. Entretanto, na ocasião, o povo colombiano rejeitou os termos do acordo. As partes, então, voltaram à mesa de negociação e uma nova proposta foi redigida, acomodando os pontos que ainda afligiam a população, como um possível abrandamento das penas pelos crimes cometidos por militantes guerrilheiros, a participação de juízes estrangeiros nos Juizados Especiais da Paz e a possibilidade de indenização às vítimas da guerrilha.

Um dos pontos mais controvertidos do acordo, a possibilidade de representação política das Farc, foi mantido. Com a deposição das armas, as Farc serão reorganizadas em torno de um novo partido político que poderá exercer plena atividade na vida nacional.

Na visita a Villavicencio, o papa Francisco reuniu-se com vítimas do conflito armado após celebrar uma missa no bairro de Catama, no que foi considerado o principal evento político da agenda pontifícia na Colômbia. “A visita de Francisco a Villavicencio marca o reconhecimento de que o fim do conflito tem como primeiros beneficiários as vítimas”, disse o diretor do Escritório do Alto Comissariado para a Paz, Gerson Arias.

Em Medellín, antigo centro nevrálgico do narcotráfico internacional e uma das cidades que mais sofreram com a violência urbana na década de 1990, o papa Francisco exortou a Igreja a “deixar a sua zona de conforto” e apoiar firmemente a reconciliação após o acordo firmado entre o governo e as Farc, além do diálogo aberto com o ELN.

Este é considerado um acordo ainda mais difícil de ser alcançado do que aquele estabelecido com as Farc porque “o ELN é um grupo muito mais radical em suas posições e com uma presença regional mais arraigada. Mas esse cessar-fogo nos dá esperança”, disse Luiz Carlos Villegas, ministro da Justiça da Colômbia.

Na última etapa da visita apostólica à Colômbia, em Cartagena, o papa Francisco dedicou um importante espaço de sua agenda para tratar de outra questão crucial para a América Latina: a ditadura venezuelana, sobretudo a violência praticada pelas forças repressoras de Nicolás Maduro. “Quero assegurar minha oração a cada país da América Latina, de maneira especial pela vizinha Venezuela”, disse o pontífice.

A crise venezuelana tem motivado um enorme afluxo de imigrantes para a Colômbia, trazendo, com isso, todas as dificuldades logísticas e humanitárias no acolhimento dos refugiados vindos do país vizinho. “Desta cidade, sede dos direitos humanos, faço um chamamento para que se rechace todo tipo de violência na vida política e se encontre uma solução para a grave crise que se vive e afeta a todos, principalmente os mais pobres”, disse Francisco diante da Igreja de São Pedro Claver, o padroeiro da Colômbia.

Mesmo sem citar diretamente o governo ditatorial do presidente Nicolás Maduro, a mensagem foi clara.