
01 de dezembro de 2012 | 02h08
Desde as malogradas conversações entre Ehud Barak e Yasser Arafat em 2000, mediadas pelo então presidente Bill Clinton - quando, segundo um analista americano que acompanhou o encontro, "Arafat recusou a paz que Barak não lhe ofereceu" -, apenas um líder israelense, Ehud Olmert, que cairia em desgraça acusado de corrupção, tentou realmente entender-se com Mahmoud Abbas, o sucessor de Arafat. O resto é história conhecida. De volta ao poder, em 2009, como sucessor de Olmert, Netanyahu só tratou de expandir a colonização israelense na Cisjordânia e de remover a população árabe de Jerusalém Oriental - ambas as ações condenadas, em vão, pela Casa Branca. Para preservar o que restou de sua popularidade, Abbas se recusou a voltar à mesa de negociações enquanto não cessasse a ampliação dos assentamentos. Era o que Netanyahu pretendia.
Além disso, com a construção de uma "barreira de segurança" de cerca de 700 quilômetros, isolando os palestinos, e com o afluxo de mão de obra de outras partes do mundo, eles se tornaram invisíveis para Israel. Não fossem os mísseis do Hamas, que controla a Faixa de Gaza cercada de todos os lados, salvo uma passagem na fronteira com o Egito, para muitos israelenses a "questão palestina" já seria uma página virada. Não bastasse isso, Jerusalém elevou as exigências para um acordo com Ramallah. A Palestina teria de ser um Estado desarmado e Israel teria de ser reconhecido como "Estado judaico" - o que transformaria em cidadãos de terceira classe (de segunda já são) o 1,4 milhão de árabes israelenses, 20% da população do Estado. Segundo o jornal Haaretz, aliás, 1/3 dos israelenses quer privá-los do direito de voto - e cerca da metade preferia que fossem removidos do país.
A mentalidade hegemônica em Israel volta a se parecer com a dos ultranacionalistas para os quais o Estado palestino já existiria - a Jordânia - e um Estado judaico fechado deveria incluir a Samaria e a Judeia bíblicas. Nesse quadro, Abbas não foi à ONU para promover a paz com Israel - "um Estado estabelecido há tantos anos", lembrou. Mas para obter o reconhecimento multilateral da Palestina também como Estado, nas fronteiras anteriores à guerra de 1967. Com isso, entre outras coisas, poderia redefinir juridicamente a presença israelense na Cisjordânia, não mais um território ocupado, mas um Estado ocupado. O que abriria caminho para processar o ocupante por atos criminosos no Tribunal Penal Internacional de Haia.
A votação na ONU, anteontem, foi um triunfo sem precedentes para os palestinos, marcou o retorno da Autoridade Palestina à cena global e configura o maior feito pessoal do septuagenário Abbas. Dos 193 países-membros, 188 foram votar. Destes, 138, entre os quais França, Espanha, Itália e Suíça e todos os Brics, sufragaram o Estado palestino. "Não há por que se opor à iniciativa", reconheceu o ex-premiê israelense Ehud Olmert. Abstiveram-se 41 delegações, incluindo a Grã-Bretanha e a Alemanha - e Berlim apregoa rivalizar apenas com Washington em matéria de apoio a Jerusalém. Já entre os nove países que votaram "não", além de Israel, EUA, Canadá e República Checa, figuram Ilhas Marshall, Micronésia, Nauru, Palau e Panamá. Nessa mesma data, há 65 anos, a ONU aprovou a partilha da Palestina em dois Estados.
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