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A volta ao crescimento

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Por Redação
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A economia brasileira voltou a crescer, a recuperação ganha impulso e 2010 só será um ano ruim se houver um repique da crise nos países mais desenvolvidos. A recessão no Brasil terminou no segundo trimestre, com um crescimento de 1,9% em relação ao primeiro. A confirmação veio ontem, quando se divulgaram as novas informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Brasil é um dos primeiros países a sair da crise, mas também nos Estados Unidos e na Europa há sinais de melhora. A recessão mundial deverá ser mais curta do que se previa, segundo as principais organizações multilaterais. É cedo para se descartar o risco de uma recaída, mas, por enquanto, as perspectivas globais são razoavelmente animadoras.O governo festeja, com razão, a relativa brevidade da recessão no Brasil. Mas é preciso apontar dois outros fatos positivos. Em primeiro lugar, não houve crise cambial, embora a receita de exportações tenha diminuído. O País entrou na crise com um robusto superávit comercial e o saldo de exportações menos importações continuou positivo. O déficit em transações correntes aumentou, em parte por causa da maior remessa de lucros. Mas as pressões sobre o câmbio foram passageiras e o Banco Central, com bom volume de reservas, poderia tê-las enfrentado, se fosse necessário. Dificuldades cambiais poderiam, como noutros episódios, ter provocado uma elevação de preços, mas isso não ocorreu e a inflação permaneceu controlada. Este é outro ponto positivo. Com a inflação contida, evitou-se a corrosão dos salários e também isso contribuiu para a sustentação do consumo, apesar do aumento do desemprego. Com a contração da economia mundial, as empresas brasileiras passaram a depender quase exclusivamente do mercado interno para se manter. A demanda foi sustentada pelo consumo privado, com expansão de 2,1% sobre o primeiro trimestre. Dos demais componentes da demanda, o investimento se manteve em variação de um trimestre para outro e o chamado consumo do governo continuou em queda.Do lado da oferta, houve resultados positivos na indústria e nos serviços, enquanto a produção agropecuária diminuiu. A redução de impostos para a compra de veículos deu resultados. O incentivo ao consumo de produtos eletroeletrônicos parece ter sido menos eficiente, mas também contribuiu para manter as fábricas funcionando. O corte de tributos pelo Ministério da Fazenda e as injeções de dinheiro pelo Banco Central foram iniciativas acertadas. Mas o governo foi incapaz de acionar um grande programa de investimentos, embora o Tesouro dispusesse de recursos para isso. A maior parte do aumento do gasto público federal concentrou-se na folha de salários e nos benefícios pagos pela Previdência - na despesa permanente e dificilmente redutível nos próximos anos. O consumo privado provavelmente se manterá, até o fim do ano, como o principal motor da economia. Mas só haverá expansão econômica segura, nos próximos anos, com mais investimento produtivo e mais exportações. No segundo trimestre, o investimento em máquinas, equipamentos, infraestrutura e instalações ficou 17% abaixo do registrado entre abril e junho do ano passado. Quando se comparam os primeiros seis meses de 2009 e 2008, a diferença para menos é de 16,6%. Se os empresários não voltarem a investir com certa rapidez, a capacidade produtiva será esgotada em pouco tempo e isso criará pressões inflacionárias. Mas será preciso também cuidar da infraestrutura, para eliminar gargalos cada vez mais prejudiciais ao País. A importância do outro fator, a exportação, é facilmente compreensível. Maior crescimento da economia resultará em maior despesa com importações. O País precisará de bom volume de receitas com a venda de produtos, para manter a segurança nas contas externas. Isso é especialmente relevante, no Brasil, porque a conta de serviços (viagens, fretes e juros, entre outros itens) é estruturalmente deficitária. Como a recuperação do comércio mundial será provavelmente moderada, os exportadores brasileiros precisarão ser mais competitivos para disputar espaço no mercado. Mais do que nunca será preciso reduzir as desvantagens comparativas. O melhor começo seria a redução de impostos.