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A volta do PRI ao poder

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Por Redação
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Depois de 12 anos na oposição, a agremiação que atende pelo nome antológico de Partido Revolucionário Institucional (PRI) reconquistou o governo do México, que controlou durante sete décadas ininterruptas (de 1929 a 2000). Mas Enrique Peña Nieto, de 45 anos, o presidente eleito no domingo e que apenas em dezembro assumirá o mandato de seis anos sem reeleição, previsto na legislação do país, não é propriamente uma cópia em carbono dos correligionários que o antecederam um depois do outro, como na sucessão dos ciclos naturais, configurando o que o escritor peruano Mario Vargas Llosa chamou, numa expressão definitiva, a "ditadura perfeita".É bem verdade que Nieto, ex-governador do Estado do México, o maior e mais populoso dessa nação de 113 milhões de habitantes, descende de um dos clãs políticos regionais que, em associação com os poderosos sindicatos nacionais, formaram a espinha dorsal da peculiar oligarquia populista mexicana - carregando historicamente a marca de Caim da corrupção, do clientelismo e das eleições pré-fabricadas, sem falar do incalculável "custo México" com que onerou o seu desenvolvimento econômico. Só que, à diferença de tantos de seus ancestrais políticos, não há, aparentemente, nada que o desabone no plano pessoal. Além disso, não se arvorou em porta-estandarte do velho priismo. "O passado já está escrito" foi o seu mote para se desvencilhar da pesada tradição que carrega, sem renegá-la, e rapidamente prometer "uma nova página".Numa campanha que teve muito barulho e pouca substância, Nieto foi beneficiado pela incapacidade da candidata governista, Josefina Vázquez Mota, de oferecer uma esperança aos eleitores fartos do mau desempenho na área social dos presidentes do seu conservador Partido Ação Nacional, Felipe Calderón, o atual, e Vicente Fox, que o precedeu - e, principalmente, da guerra ao narcotráfico declarada por Calderón, que deixou assombrosos 50 mil mortos nos últimos anos. Já o adversário que Nieto tinha mais motivos para temer, o ex-prefeito da Cidade do México Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática, que por pouco não se elegeu presidente em 2006, não conseguiu estender ao interior do país a popularidade de que desfruta na capital.No fim das contas, o que fez a balança pender para Nieto foi o coronelismo eletrônico: o escancarado apoio recebido da principal rede mexicana de TV, a Televisa, que tirou proveito noite e dia da fina estampa do candidato, casado, por sinal, com a rainha das telenovelas no país, Angela Rivera. Para deslumbramento de seus milhões de fãs, ela foi o maior cabo eleitoral do marido. O México mudou muito desde a virada do século - mas não em todos os aspectos. Ainda assim, a vitória de Peña foi literalmente relativa. Segundo a amostragem oficial dos mais de 48 milhões de votos depositados, ele se elegeu com perto de 38% dos sufrágios, ante cerca de 30% de Obrador e 25% de Josefina. Se existisse segundo turno no México, o desfecho de um confronto entre Peña e Obrador não poderia ser assegurado de antemão, apesar da força da máquina do PRI em boa parte do país.Na sua primeira fala como presidente eleito, Peña tratou de deixar claro que não buscará uma acomodação com as quadrilhas da droga, como fazia o PRI em tempos idos, quando o negócio do tráfico não tinha nem de longe o vulto que viria a adquirir. "Não haverá arreglos nem trégua com o crime organizado", prometeu Peña. Mas o que haverá exatamente não se sabe. É patente o fracasso da militarização do combate aos barões do ramo - cujos enfrentamentos selvagens, aliás, respondem por uma parcela da violência endêmica em áreas do território. A alternativa continua sendo um ponto de interrogação. Na frente econômica, onde o país vai bem, graças à reativação do consumo nos Estados Unidos, o seu parceiro por excelência, a boa notícia dada por Peña ainda na campanha é a abertura à participação privada do colossal monopólio da Pemex. Nos últimos meses, o México vem suplantando o Brasil junto aos mercados como o emergente da vez.