
31 de janeiro de 2013 | 02h09
Nesta sexta-feira, Renan deverá ser escolhido sucessor do atual titular do cargo, o seu fraterno companheiro José Sarney, para um mandato que irá até fevereiro de 2015. Tem o apoio do PT e da base aliada, com o endosso da presidente Dilma Rousseff, por efeito de um acordo pelo qual o PMDB, tendo dado os seus votos a um petista, Marco Maia, para presidir a Câmara dos Deputados em 2010, ficou com o direito de chefiar as duas Casas do Congresso neste biênio. O nome do candidato para a Câmara, o atual líder peemedebista Henrique Eduardo Alves, era conhecido desde sempre, a despeito de sua folha corrida. Ele inclui, notadamente, a acusação de manter R$ 15 milhões em contas secretas no exterior - o que lhe valeu ser despejado da posição de vice a que aspirava na chapa do tucano José Serra, no pleito presidencial de 2002. Já a volta por baixo de Renan foi tramada em surdina: para se ter ideia, até ontem nem sequer assumira a candidatura - para se "preservar". Por isso também andou se acoitando nos seus cafundós.
Faltou combinar com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Na sexta-feira passada, finalmente se manifestando no inquérito aberto no STF, o denunciou. Não se conhecem os detalhes da peça acusatória - a ação corre em segredo de Justiça. Gurgel se limitou a informar que "os fatos têm relação com aquele momento em que o senador pretendeu comprovar a origem de sua renda". Ele considera "extremamente convincente" a denúncia. "Foi uma iniciativa ponderada e refletida com o máximo cuidado." Fundamenta-se em relatórios de inteligência financeira e informações da Receita Federal. Gurgel nega enfaticamente que a apresentação da denúncia, uma semana antes da votação no Senado, tenha sido premeditada. As suas minuciosas explicações sobre o trabalho realizado e o tempo consumido, com o prolongado intervalo exigido pelo processo do mensalão, deveriam silenciar as insinuações de correligionários de Renan, que dizem "estranhar" a coincidência.
No estrito plano jurídico, é improvável que a denúncia produza consequências enquanto o denunciado exerça a mais alta função do Legislativo federal. Politicamente, porém, não deixa de ser uma pancada. Não suficientemente forte, no entanto, para que desista da candidatura, como pregam o senador peemedebista dissidente Jarbas Vasconcelos e o petista Eduardo Suplicy - embora este tenha ressalvado que votará em Renan se ele ficar até o fim. A bancada tucana está dividida entre os que defendem o voto em um dos candidatos alternativos (Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso, e Randolfe Rodrigues, do PSOL do Amapá) ou a abstenção, e aqueles que acham que não vale a pena perder a 1.ª Secretaria da Mesa Diretora que lhe foi prometida. Dias atrás, para marcar posição, o presidenciável do PSDB, senador Aécio Neves, pediu ao PMDB que indique um nome que teria o consenso da Casa para que ela "inicie uma nova fase".
Manda o acabrunhante retrospecto que nada se espere da caciquia que controla o Senado e faz o jogo do Planalto. Não foi o patriarca da confraria, José Sarney, o dos atos secretos, o primeiro a dizer que a "nova fase" começou com ele?
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